Vaticano protesta contra China

206

Prisão de sacerdote azeda relações com Santa Sé; Pequim teme união entre igrejas clandestinas e a oficial.
O Vaticano acusou ontem o governo chinês de realizar novas prisões de bispos católicos. A Assessoria de Imprensa da Santa Sé emitiu a queixa ao final de uma reunião anual para o estudo dos problemas da Igreja Católica na China. Na nota desta quinta-feira, a Igreja denuncia a volta à prisão do monsenhor Giulio Jia Zhiguo, bispo de Zhengding, e lamenta que outros sacerdotes tenham sido detidos ou submetidos a “pressões indevidas” por parte de autoridades chinesas.O papa Bento XVI fez do avanço das relações com a China uma das prioridades de seu pontificado. No país asiático, os ritos religiosos só são permitidos em igrejas apoiadas pelo governo. Milhões de chineses, no entanto, pertencem a congregações clandestinas fiéis a Roma, que recusam a tutela do Ministério dos Assuntos Religiosos chinês. Em 2007, o pontífice enviou uma carta aos católicos chineses com elogios à Igreja clandestina, mas também pedindo que os fiéis buscassem a reconciliação com os seguidores da Igreja estatal.
“Tais situações criam obstáculos ao clima de diálogo com as autoridades competentes pelo qual o Santo Padre manifestara vívida esperança em sua carta”, diz a nota do Gabinete de Imprensa do Vaticano. Na China, o vice-presidente da Associação Patriótica Católica – organização controlada pelo Partido Comunista que supervisiona a Igreja ligada ao Estado -, Liu Baiunan, respondeu que o governo tem intenção de fortalecer as relações com a Santa Sé, mas foi taxativo: “Se alguém quebra a lei, isso não deve ser visto como a China criando obstáculos a uma melhora do laços”, frisou, referindo-se às atividades de Jia Zhiguo na clandestinidade.
O padre Bernardo Cervallera, cuja agência de notícias vinculada ao Vaticano acompanha de perto a situação chinesa, disse que as autoridades de Pequim vêm reprimindo tanto os sacerdotes oficiais quanto os clandestinos. Padres têm sido presos por celebrar missas clandestinas e sacerdotes da Igreja estatal, por sua vez, estariam sendo pressionados para, publicamente, tecer críticas à Igreja de Roma. Segundo Cervallera, a repressão tem por objetivo quebrar os vínculos informais que surgem entre as igrejas clandestinas e a oficial. O mesmo fenômeno de aproximação tem acontecido no segmento protestante, e Pequim teme que o processo fortaleça as lideranças religiosas do país no combate à repressão por parte do governo comunista.

(Com reportagem do Estadão)

Deixe sua opinião