PAZ nas Férias

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As antigas aulas de matemática do colégio nos ajudam a entender a confusão que, às vezes, reina em casa.  Temos seis filhos. Conforme os matemáticos, a permutação de seis (ou seja, o número de conflitos possíveis em nossa casa) gera 720 diferentes combinações de “um contra o outro” ou “todos contra um” (6x5x4x3x2x1)! Em alguns dias, sentimos que já completamos nossa “coleção” completa!

Seis filhos significam seis gênios diferentes, seis personalidades, seis “egos”. Infelizmente, todos refletem a mentalidade que, primeiramente, vêem em nós, seus pais: “Eu sou o primeiro!”

Imagine o que acontece quando nós OITO temos “tempo de sobra”-quando, temporariamente, cessam as benditas aulas de tênis, piano, natação, escolinha etc. No primeiro dia de férias, assim que surgem as reclamações de tédio e falta de algo para fazer . . .  Quando logo em seguida começam as brigas sobre o que assistir, quem tocou em quem, quem sentará na poltrona predileta, quem vai manipular o controle remoto, e assim por diante, ad infinitum ad nauseum.

Como encontrar paz nas férias?  Como evitar que o iceberg da rivalidade entre irmãos (submerso sob o mar do ativismo durante o ano letivo) naufrague nosso lazer familiar?  Gostaríamos de olhar para quatro das principais causas da rivalidade entre irmãos, oferecendo algumas sugestões bíblicas e práticas que têm funcionado em casa.

1.  Falta de Fé nos Filhos.  A primeira causa de rivalidade entre irmãos que encontramos nas Escrituras é a natureza humana pecaminosa.  Nossos filhos nascem como nós–pecadores egoístas.  Querem o que querem, quando querem. Que bela herança dos pais!   A estultícia está ligada ao coração da criança . . . (Pv 22:15).  A rivalidade entre irmãos começou na primeira família, entre os irmãos Caim e Abel.  A falta de fé levou Caim, o mais velho, a matar o próprio irmão, Abel, por ciúmes  (Gn 4:8).  Se Jesus não transformar o coração dos nossos filhos, a estultícia e a rivalidade entre irmãos dominarão em nossos lares.  Nossa primeira tarefa como pais, é mostrar para os filhos a estultícia ligada a seus coraçõezinhos, e levá-los até a cruz de Cristo.

Sugestão: Ficamos admirados com o número de pais cristãos que se preocupam em dar o melhor de todas as outras coisas para seus filhos, mas que negligenciam cultivar a fé verdadeira neles.  NOSSA PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO COMO PAIS DEVE SER A SALVAÇÃO E O DISCIPULADO DOS NOSSOS FILHOS.  Para isto, precisamos focalizar em questões de coração e não somente de comportamento.

Que tal aproveitar as férias para reiniciar a velha, mas ainda essencial, prática de “culto doméstico”?  Não para ler 17 capítulos de Levítico na hora de dormir, mas para investir em cinco a dez minutos de discussão dinâmica em uma discussão dinâmica que toca em questões do coração e das lutas que os filhos enfrentam?  Fé em Cristo é o ponto de partida para a paz na família.

2.  Favoritismo pelos Pais.  Pais que praticam favoritismo são considerados a segunda causa de rivalidade entre irmãos.  A família de Isaque e Rebeca ilustra como o favoritismo pode gerar conflito entre os filhos.  Isaque amava seu primogênito, Esaú, homem de caça e do campo.  Mas Rebeca favorecia Jacó, homem manso, sensível e doméstico (Gn 25:28).  O favoritismo dos pais plantou sementes de rivalidade e ressentimento no coração dos filhos, sementes que, mais tarde, deram frutos apodrecidos de brigas, desconfiança, mentira e separação tanto entre pais quanto entre os filhos.

O pecado dos pais repetiu-se na vida dos filhos.  Jacó, por sua vez, não se esforçou em esconder sua preferência pelo filho José sobre os outros 11 irmãos.  Embora Deus tenha transformado aquela difícil situação em bênção (Gn 50:20), houve muito sofrimento desnecessário, especialmente para José.  A crueldade e o ódio de seus irmãos foram indesculpáveis, mas tudo começou com a raiz amarga do favoritismo dos pais e avós.

Sugestão:  Seria bom que você, pai ou mãe, verificasse se algum filho se sente marginalizado.  Observe bem: o que importa é se o filho se SENTE marginalizado, mesmo se você discorde.  Alguns pais, desafortunadamente, tentam evitar acusações de favoritismo através do “jogo da justiça”.  Medem tudo que dão para seus filhos para garantir que nenhum receba uma gota a mais de refrigerante, um grama a mais de bolo, um centavo a mais gasto no presente.  Mas é impossível  manter esse padrão, e é artificial: a vida não nos trata assim.  Mais cedo ou mais tarde, os filhos acordarão para este fato.

Para nós, tempo exclusivo com o filho que se sente discriminado é o melhor remédio.  Pode ser um jantar especial, um café da manhã, ou um passeio. O que importa é que o filho seja lembrado de que ele tem um lugar todo especial na família e no coração dos pais.

3.  Filhocentrismo. Um tempo atrás, a Revista Veja fez uma reportgem entitulada “Filhocentrismo”.   Em outubro de 2002 Seleções publicou um artigo”Romance com Filhos é Possível?: Torná-los o centro de sua vida pode lhe custar caro.”  Os artigos tratavam de um  fenômeno crescente entre famílias brasileiras, em que tudo no lar girava em torno do relacionamento pai-filho.  Enquanto há somente um filho no “centro do sistema solar familiar”, dá para funcionar.  Mas ai da família filhocêntrica quando há dois centros no sistema solar!  O conflito resultante pode gerar uma explosão maior que a bomba nuclear!

O filhocentrismo caracterizou a família de Abraão.  Enquanto havia só Ismael, filho de Hagar, como herdeiro, tudo bem.  Mas quando Isaque entrou em cena . . .  De repente, haviam dois centros do núcelo familiar.  E o que acabou acontecendeo?  Tristeza, separação, mágoa, ódo e guerra entre seus descendentes, os árabe e os judeus.  Rivalidade entre irmãos é uma questão séria, com incalculáveis conseqüências!

Sugestão: Para lidar com a rivalidade entre irmãos causada pelo filhocentrismo, oferecemos algumas sugestões extraídas do currículo Educação de Filhos à Maneira de Deus por Gary e Ann Marie Ezzo.  Primeiro, o casal precisa resgatar a centralidade do relacionamento marido-esposa.  Precisa avaliar hábitos que parecem inocentes, mas que, às vezes, refletem tendências filhocêntricas: filhos que sempre dormem com os pais, ou no mesmo horário que eles; filhos a quem os pais nunca podem deixar no berçário da igreja ou com parentes e amigos, enquanto curtem uma noite de namoro ou um retiro de casais; pais com medo de contrariar a criança, que acabam tomando todas as suas decisões com base no “palpite” do Júnior.

Para fortalecer a amizade conjugal, o casal precisa praticar o que os Ezzos chamam “tempo de sofá”.  Trata-se de um período diário de dez a 15 minutos reservado exclusivamente para marido e esposa, em que os dois cultivam seu relacionamento como melhores amigos sem a interferência dos filhos.  O ideal é que este tempo aconteça logo depois que o casal chega em casa, e que os filhos estejam acordados e cientes de que “mamãe e papai estão tendo seu tempo juntos.”  Seria difícil para nós calcular o benefício que esse promoveu em nossa família.  Além de fortalecer nossa amizade e nos manter atualizados como casal, tem dado muita segurança para nossos filhos, pois sabem que mamãe e papai estão bem.

4.  Falta de Disciplina.  O último fator gerador de rivalidade entre irmãos são pais negligentes na disciplina de seus filhos.  Provérbios adverte,  A criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe (29:15). Talvez possamos acrescentar, e vive brigando com seu irmão!  Os pais que “largam” seus filhos podem esperar MUITO conflito em casa-alguns, literalmente, de unhas e dentes!  Na ausência de limites claros e reforçados, cada criança não somente será o dono do próprio nariz, mas também do nariz de seu irmãozinho.  

Davi, o grande Rei de Israel, embora um ótimo governador, não soube dirigir tão bem o seu próprio lar.  Quando seu filho Amnon violentou sua meia-irmã, Tamar,  Davi ficou bravo, mas não fez nada.  Sua negligência entregou a vara da disciplina nas mãos de seu outro filho Absalão.  Infelizmente, a vara virou espada quando Absalão matou Amnon (2 Sm 13:21, 29). Pais que não disciplinam seus filhos criam condições para que eles exijam justiça “a sangue frio”.

Sugestão:  Alguns pais, na defesa da “criatividade” e “liberdade” da criança, deixam de estabelecer padrões de respeito, boa educação, bondade e gentileza entre seus filhos.  Acontece ue, com isto, acabam colhendo conversas ásperas, intrigas, entreguismo e outros dissabores como fruto. Os pais precisam manter ordem e disciplina em seus lares, especialmente nos relacionamentos entre irmãos.  Não há lugar para agressão verbal e muito menos agressão física na família.

Precisamos adotar uma política de “Tolerância Zero” em termos de rivalidade e brigas entre irmãos.  Palavras ásperas precisam ser cortadas de vez, disciplinadas rapida e consistentemente para não dar margem a confusão.  Em casa, uma das técnicas que tem funcionado com os filhos um pouco mais velhos é uma multa cobrada por palavras inadequadas duras, negativas ou cortantes entre irmãos.

Graças a Deus, também temos exemplos bíblicos positivos.  Gostamos em particular da história dos irmãos Arão, Moisés e Miriã, filhos de Anrão e Joquebede (Nm 26:59).  Mesmo com seus atritos ocasionais, cuidavam um do outro, respeitavam-se mutuamente, e ministravam juntos durante os muitos anos de “férias” no deserto.

Em nossa casa, apesar da possibilidade de 720 combinações de intrigas diferentes, ainda há esperança de “paz” devido a outra fórmula matemática:Qualquer número multiplicado por zero é igual a zero!  Quando fomentamos fé nos corações de nossos filhos, quando fugimos do favoritismo, do filhocentrismo e da falta de disciplina, conseguimos reduzir a praticamente zero as possibilidades de rivalidade entre irmãos.  E esta é uma matemática capaz de produzir paz até nas férias!

por: Pr. David Merkh

Amo Família / Portal Padom

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