“Homem que conheci era um homem doce”, diz viúva de cabo Bruno

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A viúva de cabo bruno, o ex-policial que aterrorizou São Paulo na década de 80, fala pela primeira vez sobre a morte do marido. Ela diz que cabo Bruno, acusado de mais de 50 assassinatos, chegou a escrever cartas para as famílias das vítimas pedindo perdão. Daisy França viu o marido ser morto e conta tudo ao repórter Valmir Salaro.

Um policial militar que virou justiceiro e confessou os crimes. Acusado de matar mais de 50 pessoas, ele admirava um ator que ficou famoso em filmes violentos.

Dayse: ele imitava, até no jeito de vestir, o Charles Bronson. Ele queria ser igual.
Valmir Salaro: Ele achava que podia fazer justiça com as próprias mãos?
Dayse: Isso que ele achava, que ele tinha que fazer. Também não justifica, mas foi isso.

Quatro anos atrás, Dayse França se casou com Florisvaldo de Oliveira, o nome verdadeiro do cabo Bruno. Ele foi expulso da PM, suspeito de chefiar um grupo de extermínio na capital paulista nos anos 80. Ficou conhecido como um dos maiores matadores do Brasil.

“Ele falou: ‘Não existe esquadrão da morte. Nunca existiu. Nunca me envolvi com ninguém. Era eu sozinho. Eu errei sozinho’”, relembra Dayse.

Na quarta-feira passada (26), aos 53 anos, o cabo Bruno foi executado com cerca de 20 tiros quando chegava em casa, em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Dayse estava no carro com o marido e mais três parentes. Ela conta que dois atiradores fugiram, mas que não tem condições de reconhecê-los.

Dayse: Quando ele abaixou para poder sair, ainda de costas, começaram os tiros. A gente não viu nada. Estava escuro, chuviscando. Falava pra ele: ‘Não me deixa, como é que eu vou viver sem você?’
Valmir: A senhora acha que ele foi morto por vingança?
Dayse: Não sei, porque assalto não foi.

Cabo Bruno foi condenado a mais de 113 anos de cadeia. Cumpriu 27, sendo que os dez últimos foram no presídio de Tremembé. Ele ganhou a liberdade no fim de agosto deste ano. Ficou exatos 35 dias fora da prisão até ser assassinado.

“Pode ter sido a mando de algum grupo como também pode ser qualquer parente que queira se vingar da morte, no passado, praticada pelo cabo Bruno”, afirma o delegado Vicente Lagiotto.

A mulher diz que o ex-policial não andava armado nem vinha sendo ameaçado. Segundo ela, há 21 anos, portanto, quando ainda estava preso, cabo Bruno era um homem atormentado, que tinha pesadelos com demônios. Nessa época, ele virou evangélico e ganhou respeito no presídio como líder religioso.

“Ele viu que o cabo Bruno não era nada, que aquele homem poderoso… Quem era ele diante de Deus? Aí que ele começa a mudar. Ele colocou bem claro que ele era errado”, diz Dayse.

Foi por causa da religião que o ex-PM conheceu Dayse, que é pastora e cantora da mesma igreja evangélica.

“O homem que eu conheci era um homem doce. É uma coisa pesada de dizer, porque algumas pessoas que têm rancor ou que tinham rancor dele, falam: agora é fácil falar, mas realmente eu conheci um homem maravilhoso”, conta.

Dayse diz que, nos 35 dias que ficou fora da cadeia, cabo Bruno visitou parentes e falou bastante com os fiéis da igreja. “A gente viajava, a gente pregava todo dia, pregando num lugar, pregando em outro”, afirma.

No começo do mês, cabo Bruno se tornou pastor em uma igreja evangélica, na Zona Oeste do Rio. Durante a cerimônia, ele falou sobre os crimes do passado e disse ser um novo homem.

“Como pode, depois de tudo que esse homem fez, de toda barbárie que ele cometeu, como pode Deus perdoar uma pessoa dessa forma? A única coisa que eu sei é que o nosso Deus é um Deus de misericórdia. É um Deus de perdão”, revela o próprio pastor Bruno em um vídeo obtido com exclusividade pelo Fantástico.

Segundo Dayse, o cabo Bruno se arrependeu tanto dos crimes que cometeu que chegou a enviar cartas para os parentes das vítimas.

“Algumas perdoaram, retornavam com cartas dizendo que perdoavam. Algumas mandavam-no para o inferno, diziam que não queriam saber”, relembra Dayse.

A polícia informou que ainda não há suspeitos do assassinato do cabo Bruno e que, nos próximos dias, será feita uma reconstituição que pode ajudar a tirar as dúvidas: Quem matou o cabo Bruno? E por quê?

A mulher do ex-policial tem uma certeza. “Com 21 anos de evangelho, hoje eu posso dizer que ele está com o senhor”, acredita Dayse.

Fantástico / Portal Padom

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