Caso do homicídio de pastor pode ir até o STJ

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VENÂNCIO > ASSASSINATO ATRIBUíDO A PAI DE SANTO COMPLETA UM ANO DOMINGO. DEFESA LUTA CONTRA REALIZAÇÃO DE JÚRIO assassinato de um pastor evangélico em Venâncio Aires, crime que completa um ano neste domingo, está gerando uma disputa judicial que poderá chegar até o Superior Tribunal de Justiça (STJ), de Brasília. A defesa do pai de santo apontado como autor do homicídio pede a absolvição sumária do réu e luta contra a realização de julgamento. Por enquanto, o caso está nas mãos dos desembargadores.
Fundador da Igreja Ministério de Fogo para as Nações, o pastor Francisco de Paula Cunha de Miranda, 47 anos, foi encontrado morto a facadas na noite de 20 de dezembro de 2008 na Rua Conde D’eu, Bairro Aviação. O corpo estava nas proximidades do terreiro onde Júlio César Bonato, 40, comandava uma uma sessão de Quimbanda. Testemunhas presentes no ritual dizem que o pai de santo saiu do terreiro, em direção ao pastor, após Miranda citar palavras contra os frequentadores, tais como “fora satanás”.
A princípio, ninguém viu o que houve depois. O próprio Bonato afirma não lembrar dos fatos daquela noite, pois estaria “incorporado” pelo Exu Caveira, entidade da religião afro. Em entrevista à Gazeta do Sul, em janeiro deste ano, Bonato ressaltou não saber o que houve das 20h20 de 20 de dezembro até 2h30 da madrugada seguinte, período da incorporação. Sob a ótica da Quimbanda, destacou não acreditar que um exu, ocupando o corpo de um pai de santo, mataria uma pessoa.
Após as oitivas e considerações finais, a Justiça de Venâncio Aires pronunciou Bonato, ou seja, encaminhou o caso a júri popular. Segundo o promotor Júlio César de Melo, o relato das testemunhas é a principal prova contra o pai de santo. “Os indícios da autoria são mais do que suficientes. Mostra disso é a decisão do juiz em mandar o réu a julgamento. O próprio Bonato não nega o crime, apenas diz não lembrar de nada”, comenta. Melo aposta na realização do júri em 2010 e também adianta que não pretende suscitar, em plenário, debates religiosos em torno da questão.

RECURSO
A decisão sobre a realização de júri depende agora dos desembargadores, pois os advogados recorreram da pronúncia. Líder da equipe de defesa de Bonato, o criminalista Marco Mejìa – que atua com os advogados Rodrigo Torres, Alexandre Maziero e Alexandre Meneghini Ramos – quer a absolvição sumária do pai de santo e diz que o autor do crime é alguém não identificado. “As provas técnicas mostram a inocência de Bonato. Por exemplo, não foi encontrado sangue humano nas facas apreendidas na casa dele, tampouco rastros de sangue entre o cadáver da vítima e o terreiro”, argumenta.
Mejìa supõe que o pastor tinha inimigos, possivelmente devido a provocações anteriores, semelhantes às realizadas defronte do terreiro de Bonato (fato negado pela família da vítima). “O crime teve cunho religioso, mas não está ligado ao meu cliente”, afirma Mejìa. O advogado ressalta que, em caso de derrota no Tribunal de Justiça de Porto Alegre, pretende levar o caso aos ministros do STJ, em Brasília. Também adianta que, em caso de júri, não pretende abordar a questão religiosa – a menos que o assunto entre em pauta por parte do promotor.

Gazeta do Sul / Padom

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