RIO — Os 45 sobreviventes do incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz passaram a manhã deste domingo em um hotel em Punta Arenas, no Chile, à espera do avião da FAB que vai trazê-los de volta ao Brasil. O clima é de muita tristeza. Alguns sobreviventes têm frequentes crises de choro. Eles eram bastante ligados aos dois militares mortos, que fizeram o treinamento de segurança de muitos pesquisadores. Um avião da FAB vai trazê-los de volta ao Brasil. Segundo a Marinha, a aeronave decola às 15h deste domingo e deve chegar ao Rio ainda hoje às 23h50, na Base Aérea do Galeão. Antes o avião faz escala em Pelotas, onde desembarcam quatro pesquisadores.
— Não tem palavras. A gente só tem a vida e Deus — resume o pesquisador da UFRJ João Paulo Machado Torres, que aguarda, em um hotel em Punta Arenas, no Chile, o retorno ao Brasil.O projeto que ele coordenava, o Pinguins e Skuas, um investimento de US$ 500 mil, foi perdido, assim como as outras pesquisas na base brasileira. Torres, que estava acordado quando o fogo começou, ainda conseguiu chegar à biblioteca e salvar um laptop, mas não alcançou o alojamento, que os pesquisadores chamam de camarote. Alguns pesquisadores dormiam quando o fogo começou, e a maioria dos colegas, conta ele, teve tempo somente de pegar seus casacos para enfrentar o frio de 5 graus negativos. Como Torres fazia muito trabalho de coleta externa, sempre tinha equipamentos de frio mais à mão, e distribuiu as roupas extras.
Ninguém ficou ao relento, pois o grupo se abrigou em pequenos módulos que o fogo não atingira. O pesquisador relata que o alarme não soou, mas ele não acredita em falha do equipamento, que deve ter sido destruído no incêndio antes mesmo de poder funcionar. Torres estava na Antártica desde o início de fevereiro e voltaria ao Brasil no dia 11 de março.
Nádia Sabchuk, de 22 anos, pesquisadora da biologia dos peixes, diz que “não tem a mínima ideia” de quando retorna ao Brasil. Desde janeiro na Antártica, a mestranda da Universidade Federal do Paraná (UFPR) lamentou a morte dos militares e a destruição do material de pesquisa no acidente.
— Estamos consternados com os companheiros que perdemos. Lá, como vivíamos em confinamento, acabamos nos tornando muito próximos. Todos se conheciam. Esse abalo não nos deixa nem calcular o quanto perdemos em pesquisa, que foi absolutamente tudo. Tudo. Perdemos amostras coletadas, documentos, protocolos etc. — contou Nádia, que ainda quer voltar à Antártica.
Como os outros pesquisadores, a jovem fugiu às pressas do local do acidente apenas com a roupa do corpo e os principais documentos.
— Os camarotes foram as últimas partes a serem atingidas. O pessoal do grupo base deu todo apoio, fomos para os refúgios e nenhum dos pesquisadores correu perigo — afirmou Nádia.
De acordo com o jornal “Zero Hora”, na sexta-feira, antes do acidente, os pesquisadores comemoraram aniversário de um colega. Enquanto a maioria dormia, houve uma queda de luz por volta das 2h de sábado, e um grupo resolveu aproveitar para observar as estrelas do lado de fora. Ao saírem da estação, viram o incêndio na casa de máquinas:
— A gente viu um clarão e voltou correndo e anunciando o incêndio, mas na hora que a gente viu, o fogo já estava alto — contou o biólogo Cesar Rodrigo dos Santos ao “Zero Hora”.
Os pesquisadores acordaram a outra parte do grupo e foram para um laboratório de química utilizado como refúgio fora da estação. Nesse momento, algumas pessoas conseguiram telefonar para suas casas e comunicar que passavam bem.
Segundo Nicole Correa Martins, pesquisadora da área de Biologia Marinha da UFRJ que também está em Punta Arenas, o grupo se reuniu pela manhã para discutir detalhes do retorno ao Brasil, mas ainda não se sabe quando exatamente será o embarque de volta.
— O importante é que todos nós estamos bem, e a Marinha está nos dando todo o apoio necessário — disse Nicole, especializada nos estudos de fitoplâncton marinho.
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