Ufólogos se reúnem em centro espírita e buscam apoio do governo

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ufólogos-centro-espírita-Pedro Álvares Cabral, quando vislumbrou terra à vista, os viu. Pois, 513 anos depois, o governo brasileiro começa a abrir os olhos também. 

Ademar José Gevaerd, 51, é quem assina embaixo. Para ele, há tempos sabemos que há extraterrestres entre nós. “Uma coisa tão óbvia…”, diz uma das autoridades em ufologia do Brasil.

Professor de química, divorciado, pai de três filhos, o curitibano alisa com a mão os cabelos brancos, alguns fios abduzidos por iminente calvície.

“A sociedade ridiculariza cada vez menos. Não somos loucos, somos pessoas normais, fazendo pesquisa”, continua o editor (e redator, fotógrafo, diagramador…) da revista “UFO”, há 30 anos em circulação.

E o que caiu do céu e não são óvnis, para Gevaerd, é a nova posição do Planalto –comandado pela presidente Dilma, que em agosto disse ter “muito respeito pelo ET de Varginha”.

Em 18 de abril, o secretário-geral do Ministério da Defesa, Ari Matos, recebeu integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos. “As partes estão em contato com o objetivo de constituir uma comissão”, segundo a pasta.

Se o grupo vingar, civis e militares unirão forças pela primeira vez para apurar as “inúmeras ocorrências” de veículos aéreos “com tecnologia incompatível com as conhecidas pela ciência terrestre atual” (fenômeno que teria sido registrado pelas Forças Armadas no território brasileiro).

Essas informações estão descritas numa carta enviada pelos ufólogos ao ministro Celso Amorim. A ideia de montar a comissão, diz o governo, é “dar início” à investigação conjunta.

JESUS, UM ET

Música para os ouvidos dos 270 inscritos no 2º Encontro de Ufologia Avançada em São Paulo, realizado no fim de semana passado, numa casa na Vila Clementino (zona sul) que, geralmente, dedica-se ao espiritismo.

Uma forte corrente alia evidências de vida fora da Terra a manifestações em geral vistas como religiosas.

Uma certeza desse grupo: o próprio Jesus Cristo veio de fora, implantado no ventre da mãe. “Foi inseminação artificial mesmo, em Maria”, diz Mônica de Medeiros, que coordena a Casa do Consolador e lançou, no evento, “Projeto Contato”, livro escrito em parceria com Margarete Áquila.

Margarete ajeita o tubinho verde com ares de anos 1970, camisa social de manga comprida e gola para fora, e lembra do francês Allan Kardec –pai da doutrina espírita que já mencionava a “pluralidade dos mundos”.

Um desses mundos fez contato com 189 pessoas em dezembro de 2004, na praia de Peruíbe (SP), diz Mônica. Os seres tinham “pele de golfinho” e uma cabeça que parecia “bola de futebol americano”. Todos viram luzes coloridas no céu, e a temperatura “despencou em pleno verão”.

Com cinco anos, Mônica acredita ter sido abduzida por um “camarada branco, leitoso e cabeçudo”. Hoje, avalia assim: “Pra mim, era o Gasparzinho. Eles usam o imaginário da criança [para estabelecer contato]”.

Se é verdade que os ETs estão por aí há tempos, a meta, para os ufólogos, é estreitar o relacionamento.

No mural, o cartaz anuncia: “Contatos imediatos de 5º grau”. A imagem traz aliens com mãos para cima e dedos separados (lembra a saudação de “Star Trek”) e uma vaquinha sendo levada pela faixa de luz de uma nave.

Gevaerd, o editor da “UFO”, elenca eventos que comprovariam as visitas dos forasteiros –que, para ele, têm formato humano e preferem se comunicar por telepatia (quando não, aprendem “o idioma do interlocutor”).

Episódio marcante, diz, foi a “noite oficial dos óvnis”, em 19 de maio de 1986. Na data, a Aeronáutica teria avistado nos céus de vários Estados “21 ufos esféricos, com 100 metros de diâmetro, o tamanho de uma quadra urbana”. Campo de visão privilegiado: aeroporto de São José dos Campos.

“Toda região ficou coalhada desses objetos”, afirma Gevaerd.

Ele faz as contas: “dez elevado a 70 é o número de estrelas que existe. São 70 zeros depois do dez”. Estarmos sozinhos no universo seria matematicamente ridículo, sustenta o crédulo.

Todos querem acreditar.

No intervalo do encontro, Telma Pires, 60, está sentada numa cadeira de plástico branco, bebendo o último gole de sua Coca-Cola Zero. Diz que trabalha com um “tribunal arbitral”, para ajudar pessoas a se conciliarem. Aproximar humanos e alienígenas, contudo, é a causa mor na vida dessa senhora que, quando criança, “desenhava ETzinhos nas paredes de casa”.

Fão do livro “Eram os Deuses Astronautas?” (1968), Telma diz que seu filho nasceu alienígena. Quando criança, bonecos aliens eram os favoritos dele na loja de brinquedos. Quando o menino tinha dois anos, viu os pais brigando e declarou: “Mamãe, não chora, nunca vai dar certo, o papai não é do mesmo planeta que nós”.

Como tantos outros entusiastas da ufologia, Telma crê que a humanidade está sendo estudada por seres de outro planeta. “Me sinto dentro da Matrix.” E ela se resigna: hoje, infelizmente, “reptilianos comandam tudo”.

PROCURE SABER

As versões são numerosas: ETs frequentam centros espíritas, simulam a imagem de Gasparzinho para se aproximar de crianças ou “entram pelas paredes como se elas não fossem sólidas e fazem coleta de pele e de sangue, um grande banco de dados da humanidade” (aposta de Gevaerd).

Tudo o que os ufólogos pedem, no fim, são recursos para poderem estudar os viajantes espaciais. Daí o afã com o aceno do Ministério da Defesa.

Na era da Lei de Acesso à Informação, o governo abriu 4.500 documentos secretos sobre o que seriam investigações federais na área da ufologia, guardados no Arquivo Nacional, em Brasília. “Mas sabemos que são pelo menos 10 vezes isso”, diz Gevaerd.

Folha / Portal Padom

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