Produtores de cinema começam a investir em temas evangélicos

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Sucesso de vendas em diversos segmentos culturais, como o fonográfico e o literário, o mercado brasileiro de produtos evangélicos, que movimenta bilhões de reais, começa a se interessar por uma divisão pouco explorada, mas com muito potencial: a do audiovisual. Ou assim imagina a produtora carioca Graça Filmes, que lançou, anteontem, sem muito alarde, 52 cópias do longa-metragem “Três histórias, um destino” nas principais capitais do país.

Coprodução com a americana Uptone Pictures, especializada em filmes e programas de inspiração cristã, o filme é escrito e dirigido pelo ator americano Robert C. Treveiler (que interpretou um pastor na série “One three hills” e atuou em seriados como “Dawson’s Creek” e “Drop dead diva”), a partir do best-seller homônimo do missionário brasileiro R.R. Soares. “Três histórias, um destino” fala sobre três casos: um pastor obcecado pelo poder; um menino de uma favela que se envolve com o crime; e uma jovem que se afasta de Deus depois do casamento. O filme tem elenco americano (pouco conhecido no Brasil), é falado em inglês e só será lançado nos Estados Unidos e em outros territórios em 2013.

— Optamos por lançá-lo primeiro aqui porque é uma produção baseada em um autor brasileiro — explica Ygor Siqueira, diretor da Graça Filmes, produtora que atua no mercado desde 2010, responsável pela série infantil “Midinho, o missionário” e pela distribuição em DVD de títulos estrangeiros do gênero. — Acho que chegou o momento de entrarmos nessa seara. Na semana passada, aconteceu a primeira mostra de filmes cristãos no Rio. A igreja Bola de Neve, que é bem jovem, está criando um festival de curtas em São Paulo. O “Três histórias” é um bom pontapé para motivar quem quer fazer cinema nessa linha. A página dele no Facebook já foi curtida por mais de 40 mil.

Siqueira lembra que há várias produtoras americanas que só trabalham com o filão gospel. Mesmo grandes estúdios abriram divisões para o segmento, como a Fox Faith, selo da Twenthieth Century Fox voltado para filmes de orientação religiosa. A iniciativa da major americana ampara-se na boa atuação de produções que lidam com questões envolvendo fé, crenças e conduta cristã, como “A Paixão de Cristo” (2004), de Mel Gibson, que faturou cerca de US$ 612 milhões, posteriormente distribuída pela Fox Faith em DVD.

No Brasil, o número de títulos de temas religiosos ainda é incipiente. Mas seu apelo pode ser medido pelo percurso de produções como “Maria, mãe do filho de Deus” (2003), de Moacyr Góes. O filme, que conta com participação do padre Marcelo Rossi, atraiu cerca de 2,3 milhões. Góes também dirigiu “Irmãos de fé” (2004), sofre a conversão de São Paulo de judeu em apóstolo, visto por 912 mil espectadores.

‘Gênero difícil’

Outro indício de que a fé, além de mover montanhas, pode movimentar o cinema nacional é a recente onda de filmes de temática espírita, que gerou títulos como “Chico Xavier” (2010), de Daniel Filho, visto por cerca de 3,5 milhões de brasileiros, e “Nosso lar” (2010), de Wagner Assis, que bateu a casa dos 4 milhões de espectadores. Siqueira avisa que outras produtoras brasileiras tentaram investir no nicho do cinema gospel, como a Comev, especializada em música evangélica, e a BV Filmes, e fracassaram na empreitada.

— O produto nacional nessa linha ainda é precário em termos de qualidades técnicas e de interpretação — observa o produtor brasileiro. — É um gênero muito difícil, porque há de se ter cuidado para não denegrir a família, a Bíblia, mesmo que esta não seja citada diretamente. Já recebi ofertas de produtoras de filmes seculares que querem alcançar esse nicho, que não tinham nada a ver com a palavra cristã. O evangélico iria reprová-los.

O Globo / Portal Padom

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