Pressionado por caso do Holocausto, papa se diz vítima de “hostilidade e ódio”

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bentoO papa Bento 16 disse na quinta-feira sentir uma profunda dor por causa da “hostilidade e ódio” que alguns católicos lhe dirigiram depois de ele readmitir na Igreja Católica quatro bispos tradicionalistas, entre eles Richard Williamson, que causou grande polêmica ao negar a total extensão do Holocausto em entrevista a um jornal.

Em carta “angustiada” aos líderes da igreja, o papa admite que o Vaticano se portou e se comunicou mal durante a polêmica e alertou que a igreja arriscou “se devorar” com polêmicas internas.

A carta, divulgada nesta quinta-feira, diz ainda que alguns problemas poderiam ter sido previstos se o Vaticano usasse mais a Internet para checar os antecedentes das pessoas.

Numa raríssima explicação de suas ações aos bispos, o papa também defendeu sua decisão de iniciar um procedimento para readmitir a tradicionalista Sociedade de São Pio 10º (SSPX) na Igreja e rejeitou as acusações de que estaria tentando fazer “o relógio andar para trás”.

Em 24 de janeiro, o papa suspendeu a excomunhão de Richard Williamson e de três outros bispos, na esperança de curar um cisma de 20 anos — os quatro bispos haviam sido expulsos da Igreja após serem consagrados sem a permissão do papa João Paulo 2º.

Numa entrevista transmitida dias antes, Williamson disse duvidar que houvesse câmaras de gás nos campos de concentração nazistas, e afirmou que o Holocausto matou apenas 300 mil judeus, e não 6 milhões, conforme diz a maioria dos historiadores.

Bento 16 revogou a excomunhão em janeiro, em uma medida que o aproximou da direta católica, mas o coloca em atrito com sua ala progressista e com a comunidade judaica.

Misericórdia

Na carta, o papa lamentou ainda que um “gesto de misericórdia” tenha levado à “discussão mais acalorada que vimos num longo tempo”.

A readmissão de Williamson provocou críticas de grupos judaicos e de muitos católicos. “Fiquei entristecido pelo fato de que mesmo católicos que afinal de contas poderiam ter uma melhor compreensão da situação tenham achado que tinham de me atacar com aberta hostilidade”, disse o papa.

Ele disse que a polêmica envolvendo Williamson e a negação do Holocausto foi “um tropeço imprevisto” que ofuscou sua intenção de cicatrizar feridas na igreja. “Que o discreto gesto de estender a mão tenha dado lugar a um enorme ruído, e portanto se tornado exatamente o oposto de um gesto de conciliação, é um fato que devemos aceitar”, disse.

Em sua defesa, o papa lamentou que a sociedade moderna aparentemente precise sempre de alguém para odiar. “Às vezes tem-se a impressão de que a nossa sociedade precisa ter pelo menos um grupo para o qual não se pode demonstrar tolerância; o qual se possa facilmente atacar e odiar. E caso alguém ouse abordá-lo –neste caso, o papa– ele também perde qualquer direito à tolerância; ele também pode ser tratado odiosamente, sem temor ou moderação.”

Folha de Sao Paulo

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