Planalto articula para 2012 encontro entre Dilma Rousseff e Bento XVI

211

LULA_640_DILMA_ESPOSA_PAPA_em+ROMA
GENEBRA – O Vaticano cobra do novo governo de Dilma Rousseff um compromisso para que não reabra o acordo que rege as relações bilaterais e que foi alvo de muita polêmica. O assunto foi debatido ontem em uma reunião entre o secretário da Santa Sé para Relações com os Estados, Dominique Mamberti, e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo encontro, fixou-se que Dilma fará uma viagem ao Vaticano em 2012 para se reunir com o papa Bento XVI. A visita já está sendo organizada pelo Palácio do Planalto e pela Santa Sé e faz parte da tentativa de se estabelecer uma “trégua” entre o Vaticano e Dilma depois das polêmicas entre Dilma e a Igreja durante a campanha eleitoral. Dilma decidiu na última quinta-feira tomar a decisão de aproveitar a ida de Carvalho à Roma para mandar um recado à Igreja de que seu governo não abrirá guerra contra a Santa Sé. Enviou por meio de Carvalho uma carta ao papa, pedindo que a Igreja “não recue” em relação ao Brasil, estabelecendo uma trégua e insistindo que o governo conta com a Santa Sé para aplicar seu projeto de erradicação da pobreza. A carta, ainda mantida em sigilo até amanhã quando será lida pelo papa, pede também sua bênção para o governo e assegura que quer diálogo com o Vaticano. “O que nós queríamos e acho que conseguimos era limpar de uma vez por todas o mal estar da campanha eleitoral”, admitiu Carvalho. Nem a carta e nem a reunião de ontem tratou do aborto. Mas Carvalho admitiu que a campanha de Dilma viveu “momentos de grande tensão” diante dos comentários do Papa sobre o assunto, poucos dias antes do segundo turno. Bento XVI, em uma reunião com bispos do Maranhão, condenou a descriminalização do aborto e da eutanásia e recomendou aos bispos brasileiros que emitissem “juízo moral” sobre essas questões, mesmo em “matérias políticas”. Embora não tenha feito referência direta à eleição, o papa pediu aos bispos que orientassem os fiéis a usar o voto para a “promoção do bem comum”. “Não sabíamos que direção esses comentários tomariam”, admitiu Carvalho. “Foi um momento de grande tensão”, insistiu. Ele, porém, acusou “forças no Brasil” por terem influenciado o Papa a fazer tais declarações e garantiu que Dilma considera o assunto como fazendo “parte do passado”. Viagem Do lado do Vaticano, Mamberti confirmou que o Brasil é de “importância fundamental” para a Santa Sé e que uma visita de Dilma em 2011 ao Papa seria relevante para mostrar o compromisso na relação bilateral. Carvalho, porém, explicou que dificilmente a viagem poderia ocorrer em 2011. “O primeiro ano é sempre um período para amarrar o governo”, explicou o emissário. “A data que se trabalha é 2012 para a visita de Dilma”, apontou. Mamberti também insistiu na necessidade de o acordo que rege as relações bilaterais – conhecido como concordata – finalmente entre em vigor e que não seja alvo de uma revisão por parte de Dilma. O primeiro acordo proposto pela Igreja em 2007 falava na obrigatoriedade do ensino de religião em escolas públicas, acesso às reservas naturais para missionários e isenção de impostos à Igreja. O Itamaraty reduziu o acordo a uma mera declaração de boas relações entre a Santa Sé e o governo. Mas mesmo assim ele foi questionado na Justiça. A concordata já foi aprovada pelo governo Lula e pelo Congresso. Mas esbarrou em um processo e está no Supremo Tribunal Federal. “Não acreditamos que isso ofereça um risco para sua entrada em vigor”, garantiu Carvalho. O emissário nega que o acordo será reaberto por Dilma e ainda garantiu a Mamberti que a presidente eleita não pretende azedar as relações bilaterais. “Minha principal mensagem e objetivo foi a de tranquilizar o Vaticano em relação ao que será o governo Dilma”, explicou ao Estado por telefone Carvalho, ao sair da reunião. Segundo ele, o governo teve de negociar cuidadosamente o texto para manter o caráter laico do estado e ainda atender a todos os demais cultos. “Não podemos esquecer que 22,5% da população brasileira é composta de evangélicos”, disse. “Mas o que eu expliquei é que não haverá uma diferença qualitativa entre o governo Dilma e o governo de Lula em relação à Igreja. Expliquei que Dilma não tem a intenção de mudar nada e nem desfazer a relação construída nos últimos anos”, afirmou. “Na realidade, o que a carta diz é que a Igreja é fundamental para o projeto de Dilma de erradicação da pobreza”, contou.

Estadão / Portal Padom

Deixe sua opinião