Roberto Francisco Daniel, 48, mais conhecido como padre Beto, diz ver com incoerência sua excomunhão da Igreja Católica, já que sacerdotes que cometeram crimes de pedofilia, entre outros, não receberam a mesma punição.
O religioso que atuava na Diocese de Bauru (329 km de São Paulo) desde 2001 foi excomungado nesta segunda-feira (29) pela igreja, após um vídeo no qual ele se mostra favorável à união entre homossexuais ter sido publicado na internet.
“Foi com bastante indiferença [que recebi a notícia] porque eu já tinha me desligado. Mas, por outro lado, vejo com muita tristeza a incoerência dela [da Igreja], porque nós sabemos de casos que são notórios e públicos de pessoas, padres e bispos que erraram, que cometeram crimes de pedofilia, outros crimes também, que são punidos pela lei penal, mas não são excomungados. E a gente que simplesmente ajudou na reflexão sobre esses temas é excomungado. Vejo uma incoerência muito grande”, disse ao UOL.
Impedido de celebrar missas a partir de então, Beto diz que manterá suas ações como teólogo e professor universitário na cidade, mantendo o diálogo sobre assuntos que envolvem a sexualidade.
“Pretendo continuar uma vida religiosa como teólogo. Sou teólogo formado, tenho doutorado e vou continuar contribuindo com a reflexão sobre Deus, sobre o mundo e como eu já comecei sobre a sexualidade humana, sobre o comportamento humano e sua relação com Deus”, disse.
Padre Beto nunca foi um padre ‘comum’. Com aparência jovial, vista no piercing em uma das orelhas, na tatuagem aparente e na calça jeans e camiseta, ele atraía jovens universitários e católicos não praticantes para as missas bauruenses. Em muitas delas, as mulheres eram maioria. O motivo? A simpatia e os olhos claros do religioso também costumeiramente chamado de ‘padre galã’.
Beto repudiou ainda o discurso da igreja que diz que seus atos provocam escândalo.
“Quando ela [a Igreja Católica] fala em atos, isso é muito grave. Não são atos, são reflexões, é uma grande diferença. Tenho uma vida íntegra, dou a cara para bater. Reflito claramente porque não tenho o que esconder. Tudo o que eu faço é da linha da igreja, nunca feri o celibato, sempre levei a vida na moral cristã. Reflito a igreja, mas ela tem que revisar o conceito”, diz.
Para ele, falta a Igreja Católica abrir espaço para a reflexão de temas atuais, como o uso de métodos anticoncepcionais.
“É claro que a maioria dos casais da Igreja Católica usa camisinha, faz laqueadura e ninguém fala. É aquela hipocrisia e não se esclarece que temos que ter uma boa educação sexual, planejar nossas famílias. Agora se isso é escandaloso em pleno século 21, eu não sei em que sociedade estou vivendo”, diz.
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