Pastor Terry Jones, sede entrevista ao Jornal Folha de S.Paulo

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Da última vez em que o pastor norte-americano Terry Jones esteve envolvido na queima do Corão, em uma cerimônia transmitida ao vivo, em março de 2011, mais de 30 pessoas foram mortas no Afeganistão em retaliação.

Neste ano, ele ajudou a promover o trailer do vídeo “Inocência dos Muçulmanos”, que satiriza Maomé. O filme desencadeou vários atentados, entre eles o que matou o embaixador dos EUA na Líbia.

Na reta final da campanha dos EUA, o pastor-sensação dos ultraconservadores americanos anunciou o enforcamento de uma imagem de Barack Obama na frente de sua igreja, na Flórida, a Dove World Outreach Center.

Jones questiona a certidão de nascimento do presidente (se nasceu no Quênia ou nos Estados Unidos), “suas promessas não cumpridas, suas visões pró-islã, a favor de casamento gay e aborto”.

“Ele apoia a Irmandade Muçulmana no Egito e recebeu líderes muçulmanos radicais na Casa Branca”, diz.

Jones já foi interrogado pelo Serviço Secreto diversas vezes, recebeu centenas de ameaças de morte e está na lista dos grupos de ódio.

Mas, em entrevista à Folha em sua igreja, ele defende o seu direito à liberdade de expressão. Jones recebeu a reportagem munido de uma pistola semiautomática, cercado por pastores armados.

Folha – Por que o sr. critica o islã e queima o Corão?
Terry Jones – Morei 30 anos na Europa. À medida que a comunidade muçulmana cresce, começa a exigir a sharia [lei islâmica]. O mesmo pode ocorrer nos EUA.
O islã não é uma religião compatível com a sociedade ocidental, pois o Ocidente é baseado em três elementos básicos: liberdade de expressão, de imprensa e de religião. O islã não tolera crítica. Nossa luta é contra os muçulmanos radicais que querem instituir a sharia nos EUA.

Existe um risco real de alguém instituir a sharia nos EUA?
Hoje, há 7 milhões de muçulmanos nos EUA e muitos querem que a sharia seja adotada. Ela já foi usada em alguns tribunais norte-americanos. Então precisamos protestar contra isso.

Mas por que queimar o Corão?
Queimamos o Corão para mandar uma mensagem aos muçulmanos radicais. O islã funciona a partir do medo e da intimidação.
Se você critica o islã em alguns países muçulmanos, pode acabar preso ou morto. Então resolvi criar o dia internacional de queima do Corão. Fizemos um julgamento do islã, que foi considerado culpado, o que levou à queima.

A queima do Corão levou à morte de várias pessoas no mundo. Como encara isso?
Não nos sentimos responsáveis. Queimar um livro sagrado pode ser motivo para sentirem raiva, mas não para assassinarem pessoas. Isso só mostra que o islã é violento.
Pessoas já vieram à nossa igreja e queimaram a Bíblia. Isso não me fez cometer um ato de violência. Queimar o Corão é um simples exercício de liberdade de expressão.

Recentemente o sr. ajudou a promover o vídeo “Inocência dos Muçulmanos”. Por quê?
Fomos contatados pelo produtor e promovemos o trailer, uma sátira à vida de Maomé. Ele não foi um profeta típico, teve uma vida perversa e violenta, e é importante que as pessoas saibam disso.

O vídeo esteve relacionado com a morte do embaixador americano na Líbia…
Isso mostra o que acontece quando nos sujeitamos a grupos radicais. A sociedade ocidental vem se sujeitando ao islã há muito tempo, em vez de confrontá-lo.

Não é ofensivo enforcar a imagem do presidente de seu país?
Provavelmente sim. Mas, durante a guerra da independência [no século 18], a imagem do rei George [da Inglaterra] também foi pendurada numa forca. Queremos mostrar nosso descontentamento com as visões antiamericanas do presidente.

Enforcar a imagem de um presidente negro, em um país onde houve linchamentos e enforcamentos de negros, não é ofensivo?
Não encaramos o presidente como um homem negro, ele é o presidente, não é branco nem negro.

Eu notei que o sr. está portando uma arma. Que arma é?
Uma pistola semiautomática calibre.40.

Não é estranho um pastor andar armado?
Sim, é. Nunca achei que fosse andar com uma arma, mas, depois que me envolvi com o islã, recebi mais de 400 ameaças de morte e há uma recompensa de US$ 6 milhões pela minha cabeça no Paquistão.
Não pretendemos usar as armas; elas são para dissuasão. Mas, claro, usaremos se for necessário. Todos os pastores aqui andam armados.

O sr. também está em uma cruzada contra a homossexualidade…
Sim, algumas questões são muito importantes para nós: islã, aborto e homossexualidade.
Somos totalmente contra o aborto, mais de 3.700 bebês são mortos por dia nos EUA. Há milhares de casais na fila de adoção.
Já a homossexualidade simplesmente não é um estilo de vida aceitável. Não somos contra homossexuais, tentamos apenas mostrar a eles a verdade para que eles escapem. É um tipo de doença.
E temos o direito de protestar contra o casamento gay sem sermos acusados de ser fanáticos ou intolerantes.
O casamento gay diz às nossas crianças que não existe problema em ser homossexual, o que é errado.

Folha / Portal Padom

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