Padre inglês abre as portas em SP para fiéis homossexuais

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Padre gay reúne homossexuais em São Paulo

Noticias Gospel – Desde 2008, vive em São Paulo um padre defensor dos direitos dos homossexuais. Mas não é possível encontrá-lo em uma igreja. James Alison, 55, faz “missas” em seu apartamento, próximo ao largo do Arouche.

Ali, reúne-sePadre gay reúne homossexuais em São Paulo um grupo de católicos LGBT que acredita ser possível conciliar sexualidade e fé. “Chego a receber 30 pessoas”, afirma o padre. Ele não permitiu que a celebração fosse fotografada porque achou que seria “inapropriado” com os fiéis. “Muitos não se assumiram. Eles vêm aqui em busca de um lugar seguro.”

Alison veio ao Brasil pela primeira vez em 1987 e já viveu em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Homossexual, acabou rejeitado, em 1994, pela ordem religiosa da qual fazia parte por causa de suas opiniões. O padre foi rejeitado, não excomungado, o que na prática significa viver em uma espécie de “terra de ninguém”. Tecnicamente, ele continua a ser padre, mas não é ligado a uma ordem religiosa ou arquidiocese.

“Para que eu volte a ser aceito e celebre rituais numa igreja, preciso mudar minha opinião. Concordar que a homossexualidade é uma desordem objetiva [algo como uma patologia], o que não farei”, diz o padre.

A atuação do inglês pela Ação Pastoral da Diversidade levou a Arquidiocese de São Paulo a abrir um procedimento canônico por exercício irregular do ministério contra ele. “Para exercer regularmente o ministério, é necessário o uso de ordens dado pelo arcebispo, e o referido não o tem”, informou a organização, em nota.

O padre diz acreditar que a ação não deverá acarretar em consequências concretas e que compreende o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo da cidade. “Sempre mantivemos diálogo. Ele teve que abrir o procedimento porque era sua obrigação.”

Alison vive com Luiz Felipe, 29, seu filho adotivo e brasileiro, e o buldogue francês Nicolas, 2. O trio deve se mudar no fim do mês para a Espanha, onde Luiz Felipe deseja estudar.

Além de dar palestras em faculdades sobre homossexualidade e religião, o padre tem dois livros em português: “Fé Além do Ressentimento: Fragmentos Católicos em Voz Gay” (ed. É, 336 págs., R$ 34,90) e “O Pecado Original à Luz da Ressurreição: A Alegria de se Perceber Equivocado” (ed. É, 512 págs., R$ 44,90).

Formado em teologia, Alison debate as interpretações da Bíblia, que, para ele, distorcem a maneira como o homossexual é visto pelos cristãos. “Há passagens que são entendidas como menções aos gays, o que não tem nada a ver. Isso se deve às muitas edições feitas ao longo dos séculos, com traduções equivocadas.”

Os encontros, quinzenais, recebem em sua maioria jovens gays que desejam professar sua fé, mas não se sentem à vontade em igrejas.

Muitos, revela Alison, vêm com histórias de violência. “Inclusive jovens seminaristas que admitem sua orientação e são perseguidos, como aconteceu comigo”, conta o padre, que diz não ter dúvidas de que “o mundo clerical é gay em uma proporção muito maior do que na sociedade. E seus integrantes que não saem do armário são os piores, os que perseguem com mais violência”.

O professor Edilson da Silva Cruz, 26, frequentador da Ação há dois anos, diz acreditar que a igreja ainda vai se abrir aos homossexuais, mas, enquanto isso não acontece, é preciso se organizar e criar iniciativas como a do grupo. “Nunca achei que existisse uma incompatibilidade entre a minha fé e a minha sexualidade, mas queria encontrar um lugar onde eu pudesse falar sobre esses assuntos.”

“A Ação Pastoral funciona como uma terapia em grupo”, diz o gerente de vendas Lucas Paiva, 29, no grupo desde 2011. “Muitos procuram a Ação por meio das redes sociais, mas têm muito medo de serem descobertos. A simples ideia de serem associados ao mundo gay os inibe.”

O grupo vai continuar mesmo depois da mudança de Alison. “Adoraria dizer que sou imprescindível, mas isso não é verdade”, brinca o padre. “Já temos outros padres envolvidos com a Ação, e eles irão me substituir.”

Folha

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