Padre Pio, defende os evangélicos e budistas e diz que só a religião e a ciência podem salvar o mundo

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Quando o padre holandês Pio Hengsens desembarcou em Natal em 1968, recebeu uma missão difícil, confiada por Dom Nivaldo Monte: preparar futuras paróquias na cidade. O trabalho missionário no Brasil havia começado cinco anos antes, pelos sertões da Paraíba, Pernambuco e Alagoas, sempre focado na ajuda aos necessitados. Mas ao completar 50 anos de sacerdócio este mês, a história do padre mostra que foi na capital potiguar onde ele possivelmente escreveu a parte mais árdua de sua vocação. “Quando cheguei em Natal havia poucos padres, por isso fui incumbido de construir paróquias. Construí igrejas em Candelária, Neópolis, Mirassol, Jiqui e Pirangi,”, conta ele, e lembra das missas que celebrou embaixo da tenda de uma construtora das igrejas. “Tinha um fusquinha velho que ia às quintas-feiras até Pium, onde deixava o hoje cônego Lucílio, e seguia para catequizar em Pirangi. Perdi as contas de quantas vezes atolei no barro da rua Zacarias Monteiro, que naquela época não era asfaltada”,
diverte-se.
Os relatos são sempre assim, contados com bom humor mas que deixam visíveis a luta pela catequização e caridade. Durante a ditadura militar, por exemplo, ele foi convocado cinco vezes pela Polícia Federal, suspeito de “difundir o comunismo”. Os motivos, hoje, parecem bobos. “Uma das vezes fui chamado porque coordenava um grupo de teatro com mais de 250 jovens que atuavam a Paixão de Cristo, e outra vez por ser responsável pelo jornalzinho católico Caminhando, que existe até hoje”.
O clima político era tão sério que ele tinha que pedir autorização oficial dos militares para poder apresentar as peças religiosas. O papa Paulo VI ordenou a criação de Comissões de Justiça e Paz no país, para defender os torturados da ditadura. Em Natal, padre Pio coordenou o grupo, formado essencialmente por advogados. “Dom Nivaldo tinha medo de retaliação militar. Pedi que me deixasse fazer as reuniões da Comissão na minha casa e ele deixou”.
No campo social, a carência de água na região de Morro Branco levou o jovem padre a abrir os portões do terreno adquirido em 1968 (para construir a nova sede da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, local atual) onde havia um poço de água mineral. Assim passaram-se os anos de missão, cada igreja foi erguida com sucesso, mas o trabalho religioso continua até hoje na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Morro Branco.

Desafios
Existem hoje, pelos cálculos de padre Pio, uma média de 240 igrejas diferentes só na zona Norte de Natal. Para ele, esse cenário diverso é o maior desafio da igreja católica. Citando os ensinamentos do Papa João Paulo II, ele diz que hoje trabalha para manter o inter-diálogo religioso. “Não devemos nos combater, mas nos unir no que temos de semelhante”, comenta.
“Muita gente fala mal dos evangélicos, mas eles leem e estudam a palavra de Deus, coisa que muitos católicos não fazem. O budismo, por sua vez, tem ótimos ensinamentos e existia 500 anos antes de Cristo. Os católicos já foram arrogantes, precisamos ter a consciência de que ninguém sabe tudo”, diz ele, e completa: “Só a religião e a ciência são capazes de salvar o mundo”.

Tribuna do Norte / Padom

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