Líder dos Samaritanos usou dinheiro da caridade no tráfico de urânio

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Leonel Ferreira, o ex-líder dos “Samaritanos” e da Igreja Kharisma , é suspeito de ter usado dinheiro doado à instituição em proveito próprio, designadamente para financiar negócios de tráfico de urânio, eventualmente destinado a bombas.

Após uma investigação de vários anos em Portugal, o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Ministério Público do Porto acusou o pastor evangélico por crime de detenção de arma proibida, na modalidade de tráfico de substâncias que podem gerar explosão nuclear. Isto na sequência de uma investigação oriunda de França, onde foram detidos três indivíduos (um francês e dois naturais dos Camarões) supostos colaboradores de Leonel Ferreira no mercado negro do Urânio 235.

A PJ passou também a pente fino as instituições a que estava ligado o pastor evangélico. E foram descobertos indícios de que Leonel Ferreira pode ter enriquecido com vários negócios efectuados com os “Samaritanos”, na dupla qualidade de presidente da instituição e prestador de serviços ou senhorio de imóveis. Foi acusado, por isso, pela prática de um crime de peculato e outro de participação económica em negócio.

Os montantes facturados pela instituição em donativos de particulares era considerável – 2,005 milhões de euros no ano 2000, 2,023 milhões em 2001 e 2,644 milhões em 2002, valor que incluiu verbas de protocolos com juntas de freguesia.

Foram investigadas também duas empresas, a “Multiprática” e a “Ferpactos”, detidas por Leonel e mulher, e que trabalhavam quase exclusivamente para a instituição de caridade no fornecimento de alimentos e prestação de serviços de publicidade.

Ao todo, de 2000 a 2002, as empresas de Leonel facturaram 1,168 milhões de euros. Uma perícia sobre os preços dos bens e serviços concluiu que, sem intermediários na aquisição dos bens, os “Samaritanos” teriam poupado pelo menos 124 mil euros. Além disso, a instituição recebia vários donativos em géneros de instituições como o Banco Alimentar Contra a Fome, Continente e Assistência Médica Internacional. Negócio lucrativo era também o arrendamento de um armazém em Arcozelo, Vila Nova de Gaia. O próprio pastor evangélico era o dono e recebia 3250 euros por mês de renda, verba que viria a converter-se em 150 euros diários – 4500 euros mensais.

Mais tarde, em 2002, resolveu vender o imóvel aos Samaritanos por 850 mil euros, tendo recebido, no momento do contrato-promessa, 400 mil euros em dinheiro vivo. Avaliações efectuadas pela investigação apontam para uma inflação de cerca de 50% nos valores envolvidos – o armazém valeria 419 mil euros e a renda justa seria 2400 euros.

O pastor também esteve envolvido na aquisição dos escritórios onde se situa a sede da instituição, em Gaia. Em Março de 2002 comprou-as por 185 mil euros e em Setembro do mesmo ano vendeu-as à instituição por 225 mil euros.

Com Leonel Ferreira na liderança, os “Samaritanos” chegaram a celebrar acordos com juntas de freguesia para a distribuição de cabazes alimentares. Supostamente, o valor do cabaz era de 25 euros, devendo a instituição suportar 12,5 euros e o erário público os restantes 12,5 euros. Mas a investigação apurou que, afinal, o valor dos cabazes oscilaria entre 7,5 euros e 15 euros.

Ao todo, em negócios particulares com a instituição, excluindo ordenados como presidente, Leonel Ferreira terá movimentado, em dois anos, 2,3 milhões de euros, com uma margem considerável de lucros.

Fonte: Jornal de Notícias

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