Jean Wyllys, diz que a bancada evangélica é ‘atravessada por escândalos’

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Jean Wyllys e membros da bancada evangélica
Bancada evangélica é 'atravessada por escândalos', diz Jean Wyllys
Jean Wyllys e membros da bancada evangélica
Bancada evangélica é ‘atravessada por escândalos’, diz Jean Wyllys

Em uma entrevista ao Portal Terra, o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), afirmou que a bancada formada por parlamentares evangélicos no Congresso Nacional é “atravessada por escândalos de corrupção” e que os membros ignoram o clamor vindo das ruas nos protestos em todo o país. “Se você for puxar a ficha das pessoas que compõem a bancada, são todas envolvidas com escândalos de corrupção, com alguma questão local em seus Estados.”, diz Jean.

Jean, que é um dos principais defensores do movimento LGBT no Legislativo, disse ainda que o projeto conhecido como ‘cura gay’, foi derrubado devido à pressão popular nas ruas, sendo jogado no lixo “e do lixo ele não vai voltar“, disse ele, nem mesmo a tentativa de reapresenta-lo por parte do deputado Anderson Ferreira. “O presidente da Casa (deputado Henrique Eduardo Alves, PMDB-RN) disse ontem que enquanto ele for presidente, o projeto não vai, a Mesa Diretora não vai despachar o projeto. O Anderson reapresentou (o projeto) só por uma pirraça e para dar uma satisfação ao mundinho dele, a seita que ele está ligado, que acha que gay tem que ter cura, e com os argumentos mais malucos”, disse.

O parlamentar que também homossexual, disse que não quer ‘transformar mais um idiota em estrela nacional’, se referindo ao deputado federal Pastor Marco Feliciano, que foi classificado por ele como um estúpido e idiota.

Sobre a permanência de Marco Feliciano, na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara, Jean, diz que Feliciano tem legalidade, e que chegou a presidência legalmente, mas que o parlamentar evangélico perdeu a legitimidade com base em uma estratégia sua.

Leia abaixo, os pontos mais interessantes da entrevista de Jean Willys no Portal Terra.

Terra – Qual sua opinião a respeito da tentativa, por parte da bancada evangélica, da reapresentação do projeto da cura gay?

 Jean – Eu não quero transformar mais um idiota em estrela nacional. Então, me recusei a falar sobre isso ontem (3) o dia inteiro. A imprensa me ligando e eu disse que não ia falar. Não vou dar holofote para mais um estúpido, idiota, no País, como a gente já fez isso.

Às vezes nós não sabemos que somos cúmplices das nossas próprias desgraças ao eleger essas pessoas, ao dar uma importância a elas. Então, o projeto da cura gay foi jogado do lixo e do lixo ele não vai voltar.

O presidente da Casa (deputado Henrique Eduardo Alves, PMDB-RN) disse ontem que enquanto ele for presidente, o projeto não vai, a Mesa Diretora não vai despachar o projeto.

O Anderson (Ferreira) reapresentou (o projeto) só por uma pirraça e para dar uma satisfação ao mundinho dele, a seita que ele está ligado, que acha que gay tem que ter cura, e com os argumentos mais malucos.

O que mais me incomoda nas pessoas que defendem esse projeto é elas não serem honestas com elas mesmas. Elas dizem que o projeto quer garantir ao homossexual o direito de buscar um tratamento. O homossexual tem o direito de buscar o tratamento, só que o tratamento não existe, porque não existe doença, eles (bancada evangélica) não conseguem entender isso.

Nenhum homossexual em sofrimento psíquico está proibido de buscar ajuda em um psicólogo. O psicólogo não pode oferecer como ajuda a regressão da homossexualidade dele, porque isso não existe, não é verdadeiro, porque isso é anticientífico. Então, por isso só o projeto não tem que existir.

A gente não tem que dar importância, porque o presidente da Casa se comprometeu que não vai fazer tramitar o projeto e porque a gente não tem de ter mesmo uma nova liderança nacional homofóbica e fundamentalista. Chega. Já temos dois aí.

Terra – O enfrentamento do Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara acabou?

Jean – O Feliciano tem legalidade. Ele chegou (à presidência) legalmente. Ele não tem legitimidade. A gente tirou a legitimidade dele muito com base em uma estratégia minha. Eu que propus essa estratégia. A gente não vai brigar por aquilo que a gente não vai ter. O ideal é que ele saísse da presidência. Ele não vai sair da presidência por orgulho pessoal, por orgulho do partido dele, pelos acordos que foram feitos na base aliada… Ele não vai sair.

Então, o que nos resta? É sair da comissão e tirar a legitimidade da comissão. Porque, se a gente permanece, ela continuaria legítima com um presidente dessa natureza. Como eles têm ampla maioria na Comissão de Direitos Humanos, toda proposição seria derrotada com legitimidade. Então eu falei: vamos sair. E a gente saiu, e criou a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos e (nós) criamos a Subcomissão de Cultura, Direitos Humanos e Minorias.

Isso foi um baque tão grande para eles, que o João Campos (PSDB-GO), que é o autor do projeto da cura gay, entrou com uma representação na Mesa Diretora pedindo a extinção da subcomissão. Eles ficaram mordidos, porque a gente tirou a legitimidade, tirou o espaço político de discussão sobre os direitos humanos.

Terra – A cura gay foi derrubada após os protestos nas ruas. Logo na sequência, Feliciano criticou a derrubada do projeto e ele foi reapresentado por outro parlamentar da bancada evangélica. Na sua opinião, falta à bancada evangélica a percepção de algumas demandas da população?

Jean – Eles ignoram esse grito. Eles têm o mundo deles, eles falam para um nicho e eles preferem falar para esse nicho do que ouvir, do que se considerar um representante eleito de uma nação plural e, mais importante, pautar sua atuação político no princípio da laicidade, e não nas suas convicções religiosas. Acho que ninguém deveria estar lá para falar a partir de suas convicções religiosas. Mas eles falam. E a obsessão pelos homossexuais, sobretudo o João Campos, que mais tem proposição contra a cidadania LGBT, e ele é talvez até pior que o Marco Feliciano, porque o Feliciano gosta de holofote, e o João não necessariamente gosta de holofote e age nos bastidores.

O João Campos e o Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que fazem a articulação e que propõem (projetos contra a cidadania LGBT).

Terra – O Feliciano disse que a bancada evangélica voltará mais forte em 2015. Isso te preocupa de alguma forma?

Jean – Não me preocupa. Eu não fico preocupado mesmo. Primeiro tem uma fantasia totalitária, a ideia de que (os evangélicos) vão tomar o País. O grito que eles fizeram na Esplanada dos Ministérios, que foi um fracasso, fracasso em relação ao que eles planejaram, claro, (tinha) muita gente, mas, em relação ao que eles planejavam… Disseram que iam botar mais de 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios e botaram 40 mil. Fracasso então. Mas os gritos eram todos “vamos tomar o Brasil, vamos fazer um presidente da República…” Fantasia totalitária todo mundo tem e ele (Feliciano) tem a sua fantasia de que vai voltar com uma bancada de 180 deputados…

Eu acho difícil, porque ele divide esse eleitorado com outras pessoas. Não é um eleitorado só dele. E ainda que seja só dele, que ele tenha uma votação expressiva, ele vai tirar voto de outras pessoas, não necessariamente quem vai acompanhar ele em uma votação, nem sempre serão evangélicas. São pessoas do partido (PSC), mas podem não ser evangélicas.

Ainda que venha 180 deputados evangélicos. Nós somos 513. Ainda assim, será uma bancada expressiva, mas será minoria.

Mesmo a bancada evangélica hoje, ela não é um bloco monolítico. Ela não age de maneira unitária. Eles (parlamentares evangélicos) se unem na temática da cidadania LGBT. Todos são contra. Mas, eles se dividem em outras pautas. É uma bancada atravessada por escândalos de corrupção, se você for puxar a ficha das pessoas que compõem a bancada, são todas envolvidas com escândalos de corrupção, com alguma questão local em seus Estados.  integra da entrevista aqui

Portal Padom

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