Homens que oram – “Desperta, Daniel” pode ser um chamado

883

Como fez por toda a sua vida, Daniel se prostrou para orar. Não havia compromisso mais importante para esse homem do que dobrar os seus joelhos, três vezes por dia, e render graças ao Deus todo-poderoso. Aquele dia, porém, era diferente. Pairava sobre a cidade um decreto que poderia levar à morte pessoas que fizessem petição a qualquer deus. Firme em suas convicções, e mesmo sabendo que a sua fidelidade ao Senhor poderia custar a própria vida, Daniel não se importou. Em seu quarto, onde as janelas davam para Jerusalém, orou ao Senhor. Esse gesto quase lhe custou a vida. A contragosto, já que o seu preferido foi pego em franca transgressão de uma regra real, o rei Dario teve que jogar Daniel à cova dos leões. Todos conhecem o desfecho: a fidelidade e a misericórdia do Senhor alcançaram Daniel e o livraram da morte. Esse episódio, além de mostrar que Daniel era um homem de oração, também ilustra que a Bíblia está permeada de histórias de homens que dobravam seus joelhos e recorriam ao Rei dos reis pelos mais diferentes motivos: busca por libertação, misericórdia, sabedoria, bênção e conhecimento, entre outros. Essa realidade, porém, parece estar distante dos homens de hoje. Não que eles não orem, mas, em geral, são as mulheres que predominam no ministério de oração nas igrejas. O escritor e presidente do Centro Mundial de Oração, Peter Wagner, observou que das pessoas que identificam seu chamado principal como sendo de intercessão, 80% são do sexo feminino. Aqui no Brasil, há o ministério Desperta Débora, que reúne mais de 45 mil mães (biológicas, adotivas e espirituais) de qualquer denominação. Elas dedicam 15 minutos por dia para orar por seus filhos. O objetivo desse ministério, que possui 12 anos, é promover um despertamento espiritual na vida da juventude brasileira.


O QUE É O DESPERTA DÉBORA?

Em 1995 nascia o movimento idealizado pelo pastor Jeremias Pereira durante Consulta Global sobre Evangelização Mundial (GCOWE 95), promovido em maio daquele ano em Seul, Coréia do Sul. Nesse encontro, a igreja coreana consagrou cem mil jovens de diversas denominações para a obra missionária. “Era um dia chuvoso e frio e, num daqueles momentos de clamor, uma jovem perto de mim estava com a testa no chão. Em oração, ela se oferecia como mártir para que ao menos uma pessoa da Coréia do Norte entregasse sua vida a Cristo. Ao ouvir aquilo, chorei como um menino e desejei que algo semelhante acontecesse no Brasil”, lembra Pereira.

Ainda em Seul, ele procurou o pastor Marcelo Gualberto e juntos oraram por isso. De volta ao Brasil, após várias reuniões entre os dois e Ana Maria Pereira, esposa de Jeremias (já falecida), foi lançado um movimento de oração direcionado às mães. “Entendi que nenhum movimento missionário começa sem oração. E ninguém ora por um filho da mesma forma que uma mãe”, afirma ele.

O movimento tem o objetivo de reunir mães biológicas, adotivas e espirituais de qualquer denominação comprometidas em orar 15 minutos por dia para que haja um despertar espiritual na vida de seus filhos e de toda a juventude brasileira. O nome do projeto veio da passagem bíblica de Juízes 5.12, quando Débora, uma mãe, se levantou para defender Israel. Ela disse para si mesma: “Desperta, Débora, acorda!”

Se a busca de Deus por meio da oração é inerente ao homem e à mulher de igual modo, por que os homens não assumem o seu posto? Para o pastor Osmar Ludovico, é possível que hoje os homens tenham assumido o espaço da pregação, restando às mulheres a oração como forma de se expressarem verbalmente na igreja. Outro fator que pode explicar o envolvimento das mulheres com a oração é o fato de elas serem mais sensíveis que o sexo masculino nas questões afetivas e do coração. A compaixão, outra característica do sexo feminino, também as faz intercederem mais pelos outros. “Os homens se tornaram mais racionais e pragmáticos”, diz Ludovico.
Mentor e idealizador do Desperta Débora, o pastor Jeremias Pereira concorda com o seu colega. “Para ser intercessor, é necessário ter o coração compassivo e sensível, característica maior das mulheres. Os homens, por terem os corações mais durões, quando recorrem a Deus já percorreram um longo caminho”, avalia ele, que é pastor da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte.
O vendedor ambulante Luiz Carlos da Silva conserva ao seu lado uma pasta. Não se trata de catálogos ou folhetos de produtos, mas folhas e mais folhas de pedidos de oração. Silva faz parte do grupo dos homens que oram. Não são raras as ocasiões em que ele já ficou mais de três horas ajoelhado. “O mais importante é descobrir o prazer da presença do Senhor. A intercessão pelo outro vem como conseqüência. Às vezes, durante a oração, oro por algo que não havia pensado. Depois anoto e passo a interceder porque sei que é da vontade de Deus”, diz.
A prática diária da oração, para Silva, é herança do ensinamento da liderança de sua igreja. “Meu primeiro pastor era um homem que não apenas orava, mas pregava muito sobre oração e céu, e quase nada de prosperidade. Lembro que, na época (1971), ele tinha um grupo de amigos que se encontravam para orar. Aprendi com ele”, revela. Os motivos que afastam os homens da oração? “Trabalho e correria do dia-a-dia”, resume.
Para o pastor David de Mello Junior, líder de cerca de mil adolescentes da Igreja do Nazareno, em Campinas (SP), é justamente a falta de consistência espiritual dos pais que acaba refletindo na formação espiritual dos adolescentes. “Muitos pais não sabem transmitir a mensagem porque a igreja, em alguma proporção, não se norteia em princípios claros da Palavra para a responsabilidade familiar. Isso gera nos pais a procura por fórmulas, paliativos, técnicas para solucionar o cotidiano. O rumo deve ser o que Deus nos legou através da vivência familiar de oração, reflexão bíblica e orientação espiritual na comunhão”.

CAMINHO DE VOLTA

Quando oram menos do que deveriam, os homens cometem uma falha grave: deixar de ser o líder espiritual do seu próprio lar, já que a Bíblia orienta que eles devem dobrar seus joelhos para buscar orientação de Deus. Se um homem não ora, como poderá ser líder espiritual? Com isso, pode estar abdicando de seu papel e de sua autoridade espiritual.
Ludovico ressalta que os homens têm que fazer um caminho em direção ao coração e à afetividade. “A busca de Deus através da oração é sempre uma pálida resposta ao grande amor com que fomos amados. É desejo de estar com Aquele que nos ama de forma absoluta e completa”, diz.

ALGUMAS ORAÇÕES NA BÍBLIA FEITAS POR HOMENS

Personagem
Abraão
Abraão
Centurião
Cornélio
Daniel
Daniel
Davi
Davi
Elias
Elias
Eliseu
Esdras
Ezequias
Gideão
Habacuque
Isaque
Jacó
Jeremias
Jesus
Jesus
Jeocaz

Jonas
Josafá
Josué
Manassés
Manoá
Moisés
Motivo
Por Ismael
Por um filho
Por seu escravo
Por entendimento
Pelos judeus
Por conhecimento
Por bênção
Por direção
Por seca e por chuva
Pela vitória
Por cegueira e por visão
Confissão de pecado
Por libertação
Por uma prova
Por libertação
Por filhos
Por proteção
Por misericórdia
Pai Nosso
Louvor
Pela vitória
Confissão e arrependimento
Por libertação
Por proteção
Por ajuda e misericórdia
Por libertação
Por direção
Por Faraó
Referências
Gn 17.18-21
1 Sm 1.10-17
Mt 8.5-13
At 10.1-33
Dn 9.3-19
Dn 2.17-23
2 Sm 7.18-29
2 Sm 2.1
Tg 5.17,18
1 Rs 18.36,37
2 Rs 6.17-23
Ed 9.5-15
2 Rs 19.15-19
Jz 6.36-40
Hc 33.1-19
Gn 25.21
Gn 32.9-12
Jr 42.1-6
Mt 6.9-13
Mt 11.25,26
2 Rs 13.1-5
Jó 42.1-6
Jn 2.1-10
2 Cr 20.5-12,27
Js 7.6-9
2 Cr 33.12,13
Jz 13.8
Êx 8.9-13

Mas orar não é pedir em prol do próprio conforto pessoal, mas desfrutar da companhia de Deus. Quanto mais amamos a Deus, explica Ludovico, menos necessidades urgentes e circunstanciais se tem. “A vida de oração se torna comunhão e amizade com Deus. Orar é entrar na comunhão da Trindade”, explica o pastor, acrescentando ainda que Tereza D´Ávila, religiosa e escritora espanhola, nascida em 1515, fez a seguinte oração: “Que nada te perturbe, que nada te apavore, tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem Deus, nada lhe falta, só Deus basta”.
Presidente da Igreja Sara Nossa Terra, pastor Robson Rodovalho até concorda que as mulheres são mais abertas ao mundo espiritual e que freqüentam mais as igrejas do que os homens, e aceita a tese de que a ala feminina ora mais. Para ele, a falta dessa intimidade com Deus é um aspecto da vida moderna. “A sociedade de hoje é muito agitada e cheia de compromissos. Isso atrapalhou muito o devocional e a comunhão que as pessoas deveriam ter com Deus. O homem de hoje não tem tempo de orar como deveria”.
Jeremias Pereira alerta que para que homens orem mais, é preciso que haja mais liderança e mentoria. “É urgente um despertamento de homens, sejam jovens, adultos, idosos ou crianças, para a oração. Então, o que a ala masculina está esperando para arregaçar as mangas, assumir seu lugar nessa guerra, e iniciar o exército “Desperta Daniel”?”

Revista Enfoque / Portal Padom

Deixe sua opinião