Heraldo Almeida Araújo, 68 anos, abandonou o ministério de pastor que exerceu por mais de 10 anos na Assembleia de Deus em Cuiabá, para tornar-se em um crossdresser.
Segundo uma reportagem do G1, hoje Heraldo, trabalha como caminhoneiro, diferente dos demais, pois ele se veste como mulher sob o nome de Afrodite.
A história do caminhoneiro que se assumiu crossdresser e roda o Brasil de salto alto (g1)
O caminhão Mercedes, de cor azul bebê, estaciona e abre as portas. A motorista, Afrodite, de 68 anos, desce com destreza em cima de um par de saltos, habilidade conquistada nas décadas em que utilizou o calçado escondida de todos. Seu vestido é de cor preta, uma forma de luto, em respeito à morte do homem que foi um dia.
Afrodite nasceu Heraldo Almeida Araújo – nome que consta em todos os seus documentos -, mas há cerca de seis meses pede para ser chamada pelo nome feminino, escolhido por conta da admiração que nutre pela deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade.
Em meados do ano passado, decidiu se assumir como crossdresser, prática na qual homens utilizam roupas e acessórios considerados femininos.
“Desde criança, sempre me senti mulher. Perguntava para a minha mãe por que meus seios não cresciam e ela dizia que homens não têm seios. Nunca entendi por que nasci assim“, revela.
Afrodite se considera heterossexual e parou de se envolver com mulheres há alguns anos. Em meio às mudanças dos últimos meses, espera virar transexual e passar a se interessar por homens, deixando para trás uma vida que avalia como triste, por não ter conseguido ser quem realmente é.
Já foi cabo do Exército, caminhoneiro, eletricista, empresário e pastor. Casou-se duas vezes e teve uma filha. E arrumava formas para suprir os desejos escondidos.
“Na infância, eu pegava roupas de algumas primas e usava. Depois, quando adulta, eu mesma costurava minhas roupas, escondida, ou comprava algumas peças. E usava roupas íntimas femininas, como calcinha ou sutiã, por baixo das roupas masculinas.”
Usou roupas de mulher pela primeira vez aos 13 anos, quando pediu às primas que a vestissem e maquiassem. Agora, mais de cinco décadas depois, decidiu que irá fazer a cirurgia de redesignação sexual. “O procedimento, junto com o silicone que pretendo colocar, vão fazer com que eu complete esse ciclo“, diz.
A carreira de pastor
Durante o segundo casamento, Heraldo, espírita kardecista desde a infância, decidiu conhecer mais sobre a religião da companheira, que era evangélica. Acabou se tornando pastor, função que exerceu por mais de 10 anos na Assembleia de Deus em Cuiabá.
“Eu pregava, dava testemunhos e falava sobre a palavra de Deus. Eu fazia até culto em minha residência, para 150 pessoas. Gostava muito“. E costumava liderar cerimônias religiosas com roupas íntimas femininas. “Ninguém percebia, mas eu usava, porque me sentia bem.”
Com o passar dos anos, passou a se questionar sobre como a religião enxergaria o fato de se sentir como uma mulher. “As minhas fantasias continuavam e, muitas vezes, perguntei a Deus se eu estava errada. Mas me sentia em paz com minha consciência e isso me tranquilizava.”
Em 2013, após decidir que iria se tornar crossdresser, deixou a Assembleia de Deus. “Muitas coisas iam contra os meus princípios e me sentia muito reprimida. Eu acho que não deveria ter ficado tanto tempo (na igreja). Hoje penso que não deveria ter retardado tanto a minha felicidade.”
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