História dos passageiros do voo 447: “Não quero acreditar”, diz mãe de passageiro

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Lucas Gaglione de Oliveira (ao fundo), ao lado de amigos. Sua paixão por aprender línguas levaram-no a trabalhar como comissário de bordo.

Mônica de Oliveira fala sobre a perda do filho, o comissário de bordo Lucas Gaglione Juca Domingues de Oliveira, de 23 anos
Lucas Gaglione Juca Domingues de Oliveira, 23 anos, acordou assustado no apartamento que estava em Paris no dia 17 de maio. Uma ligação do Brasil o fez ajoelhar no chão e chorar. Seu pai, João Oliveira, não tinha sobrevivido a um infarto fulminante aos 51 anos de idade. Rapaz maduro para a idade que tinha – ele sempre foi assim desde menino, dizem os parentes -, Lucas colocou-se de pé e organizou sua vida rapidamente ainda com tanta “dor no peito”.

No mesmo dia, pediu uma folga na Air France, empresa aérea em que trabalhava como comissário de bordo há dois anos, e embarcou para o Brasil para ajudar a mãe, Mônica, o irmão, Tiago, e a irmã, Verônica, a enfrentar o pior momento da família: chorar, despedir-se e enterrar o seu pai, a quem era extremamente apegado. João e Lucas, como acontece na relação de pai e filho, tinham paixões comuns. A primeira era a própria família. Outra era o Botafogo, o glorioso, time pelo qual eram fascinados. Dois botafoguenses doentes.

Após 15 dias no Brasil, havia chegado à conclusão de que aquela falta o acompanharia sempre. Escreveu no alto de sua página do Orkut: “Pai, saudade eterna… te amo”. A saudade que sufocava o peito não o impediu de embarcar no voo 447 para Paris. “Ele era super preocupado com a família. Embarcou se preocupando principalmente comigo. Ele pedia: tomem conta da minha mãe”, disse Mônica sobre seu filho do meio. A saudade do pai terminou naquela trágica madrugada do dia 1º de junho.

Mônica, tomada de emoção e dor, resume assim este momento de sua vida: “Preciso de força em Deus para enfrentar o que estou passando. Perdi meu marido e agora um filho maravilhoso, brilhante, culto. Não quero acreditar. Tenho fé que ela ainda possa aparecer”, afirma Monica. Ela ainda não acreditava na fatalidade e pedia que não falassem do seu filho como se ele estivesse morto. “Temos muita confiança na volta dele. Quero acreditar e tenho certeza que ele vai voltar”, diz a irmã Verônica.
Fascinado por aviação e por conhecer outras culturas, Lucas Gaglione era cosmopolita e uniu o “útil ao agradável”, diz a mãe, ao trabalhar numa empresa aérea. Rio de Janeiro, Paris e Krakovia eram suas cidades prediletas. Ele tinha um talento especial para idiomas, falava pelo menos cinco línguas fluentemente: português, inglês, espanhol, italiano e francês. O brilhante ex-aluno do colégio São Bento, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, também se virava em polonês, russo, romeno e eslovaco. “Quanto mais língua você sabe, mais recebe da vida”, dizia aos amigos. “Era um garoto muito tranquilo, brincalhão e extremamente espontâneo”, diz o inspetor do São Bento, Alex Cotrim, há 29 anos na escola.

O hobby de aprender línguas o impulsionou a ser comissário de bordo e foi essa habilidade que impressionou a Air France no seu currículo, dois anos atrás, quando ele foi contratado. Costumava viajar com livros de línguas para ler nos horários de folga, entre uma viagem e outra. Trabalhava na rota Rio de Janeiro-Paris para estar mais perto da família. Foi assim que pôde acompanhar a festa de bodas de prata dos pais no início do ano passado, quando eles completaram 25 anos juntos. Quando estava longe, usava sempre o Skype, forma de comunicação pela internet, para manter contato frequente com seus familiares e conversar com o pai sobre os jogos do Botafogo.

Carioca, jogava vôlei de praia quando tinha tempo e não perdia uma boa noite de forró no Rio, dança em que fazia sucesso com as amigas. A musica clássica era uma paixão, mas gostava de ouvi-la quando estava em Paris. Nos hotéis, onde quer que pousasse por conta do trabalho, adorava ver filmes de suspense. Era um rapaz talentoso no começo de uma vida, que voava em busca do que queria para ser bem sucedido.

Época/www.padom.com

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