‘Fui do inferno ao céu’, diz mãe do bebê sequestrado em Saquarema

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O sequestro de um bebê de apenas 3 dias teve um final feliz: o recém-nascido – que havia sido sequestrado na sexta-feira à noite em Saquarema – foi devolvido aos pais neste domingo. Com apenas 18 anos, a dona de casa Gabriela Pereira, moradora de São Gonçalo, conta como foi todo o sofrimento entre o sequestro e o resgate de seu filho, Gustavo.

Extra: Como você ficou sabendo que o seu filho tinha sido encontrado?

Gabriela: Eu estava indo para a delegacia, para prestar depoimento. Aí, me ligaram, dizendo que tinham achado o meu filho. Eu só queria chegar o mais rápido possível, para vê-lo e pegá-lo no colo de novo.

Extra: Como os bandidos levaram o seu filho?

Gabriela: Eles tiraram o meu filho dos meus braços. Eu estava na casa da minha mãe quando entraram dois bandidos armados, pedindo o meu filho e dizendo que iriam levá-lo porque o Marcelo estava devendo R$ 2 mil ao tráfico. Mas não conheço nenhum Marcelo. Eu tentei segurá-lo. Mas um deles disse: “Você me dá o seu filho ou eu estouro a cabeça de vocês dois”. Entrei em desespero, mas não tive escolha.

Extra: Você tinha esperança de recuperar o seu filho?

Nunca deixei de acreditar nisso. Mas passei pelos dias mais angustiantes da minha vida. Se não encontrasse o meu filho de novo, a minha vida iria acabar. Passei duas noites sem dormir e sem me alimentar direito.

Extra: Como estão sendo esses primeiros momentos, com o seu filho de volta?

O susto acabou. Agora, só quero descansar e aproveitar os momentos ao lado do meu filho. Fui do inferno ao céu em menos de dois dias. Recuperei a felicidade.

Entenda o caso

Com o resgate do bebê, neste domingo, veio à tona um trama digna de novela, arquitetada por um dos assessores do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Paulo Melo (PMDB). Altair Ferreira dos Santos, de 48 anos, sequestrou o bebê para criá-lo com a companheira Gessica Paulino Marinho, de 20, que simulou gravidez para herdar R$ 500 mil do pai de criação, o fazendeiro Marcelo Castro, morador de São Paulo.

Altair, que também tinha trabalhado como administrador do Hospital Nossa Senhora Nazareth, em Bacaxá, planejou o sequestro com base em informação da maternidade. Gustavo nasceu às 18h de terça-feira, com 3,8kg e 51 centímetros. Era o alvo.

O bebê nasceu de cesariana e ficou sob observação no hospital até esta quinta-feira. No dia seguinte, Altair colocou o plano em prática, com o auxílio de dois homens armados e encapuzados, que renderam a mãe e tiraram o bebê de suas mãos, na casa dos pais dela. Altair teria dado cobertura à ação, do lado de fora da casa. Um dos bandidos, Anderson, seria chefe do tráfico no Morro do Castro, em São Gonçalo, e tinha dívida de gratidão com Altair. Ele teria sido atendido no hospital há sete meses.

Neste domingo, à tarde, policiais do 25º BPM (Saquarema) checaram denúncia e encontraram a criança numa casa em Bacaxá, com Altair e Gessica. A dupla, que pretendia batizar o bebê com o nome de Artur, foi presa em flagrante, por sequestro, cárcere privado e formação de quadrilha.

– Foi crime que chocou e mobilizou a equipe. Somos pais – disse o delegado Luciano Coelho dos Santos, da 124ª DP (Saquarema).

Depois de recuperarem o filho, a vida do motorista Rodrigo Francisco dos Santos, de 28 anos, e da dona de casa Gabriela Sabino Pereira, de 18, pode voltar ao normal.

– Só quero colocar o sono em dia. Foi um susto tremendo, mas Deus deu a vitória – afirmou Rodrigo.

Sequestrador trabalhava há 20 anos com deputado

Altair trabalhava com o deputado Paulo Melo havia 20 anos. Chegou a ser presidente do centro social do parlamentar e a trabalhar com a mulher de Melo, a prefeita de Saquarema, Franciane Motta. Nos últimos três anos, Altair estava lotado no gabinete de Paulo, como assessor parlamentar, recebendo mais de R$ 2 mil. Suas funções eram as de atender o eleitorado, intermediando, por exemplo, atendimentos médicos.

Nas festas, Altair era invariavelmente o centro das atenções. Todos admiravam seu bom humor. Ultimamente, nos churrascos e encontros, dizia que sua mulher iria ter um filho. Repetia isso nos últimos dias. Como muitos amigos não conheciam sua mulher, acreditavam. Estava obsessivo com isso. Tanto que no hospital, aonde o assessor ia quase diariamente, as pessoas começaram a estranhar o seu comportamento e disseram isso à polícia.

Ele tinha uma dívida de R$ 3 mil com financeiras. Já respondeu na Justiça por lesão corporal, mas o processo foi extinto. Em 2008, foi candidato a vereador em Saquarema, mas recebeu 501 votos. Não se elegeu.

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