“Eu vou casar virgem” – Jovens aderem a campanha de Felippe Valadão

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Os amigos Thaís Pereira e Guilherme Candido de Souza brincam um com o outro

Campanha que prega castidade até o casamento bomba no Twitter; em Rio Preto, jovens mantêm a virgindade por acreditar que a perda, antes do casamento, é pecado

Os amigos Thaís Pereira e Guilherme Candido de Souza brincam um com o outro

Júlia, mãe de Thaís, casou-se grávida, aos 19 anos. Nada de inusitado para a geração dela, que tem hoje 38 anos. O mais surpreendente é que a filha, aos 17, acalenta a determinação de chegar ao casamento virgem.
Mãe e filha são apenas um exemplo de um comportamento que chama a atenção nos dias atuais.
Essa tendência, que ganha adeptos a cada dia, é fruto de um maior entrosamento entre religião e jovens e a crença deles de que serão mais felizes se chegarem ao altar “imaculados”.
Em dezembro, bombou no Twitter a campanha “#EuVouCasarVirgem” encabeçada pastor e cantor Felippe Valadão para que os jovens mantenham a castidade. O pastor da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), tem 28 anos e diz ter casado virgem com a também pastora e cantora gospel Mariana Valadão.
Com linguagem direcionada à juventude, ele lançou a campanha da virgindade até o casamento. Ganhou destaque no Twitter e milhares de seguidores.
Thaís namora com Hermes Fernando Matias Mendes, 28, há dois anos e meio. A união será em março.
Para ela, já foi mais difícil “segurar a onda”. Agora está mais tranquila com a proximidade do casamento. “É uma decisão nossa que será mantida”. Hermes também é virgem.
Para a recepcionista, o sexo vem para abençoar o casal depois que eles são abençoados por Deus. “Antes disso, é como uma maldição.”
Apesar de ser evangélica, Juliana Priscila dos Santos, 21, diz que a decisão de se manter virgem foi tomada por ela na adolescência. “O ideal é casar virgem. Estarei me respeitando e será com a pessoa certa, a que eu escolhi para viver minha vida.”
Não está namorando, mas sempre se relacionou com evangélicos, que têm a mesma concepção sobre o assunto.
“É pecado e prefiro estar com alguém que tenha a mesma visão que a minha.”
Só da mesma religião /Jovens que decidem manter a virgindade até o casamento priorizam o relacionamento com outros da mesma religião.
“Acho difícil namorar com alguém que seja de outra religião. Não teríamos as mesmas metas”, diz o estudante Guilherme Candido de Souza, 18.
Ele cresceu dentro dos preceitos da religião mórmon.
Diz que só vai perder a virgindade depois de a união ser abençoada por Deus.
“Nasci dentro desses ensinamentos. Isso é natural para mim.”
Recorda-se que quando estava na 7ª série e um professor perguntou quem pretendia se manter virgem até o casamento. “Só eu e uma menina levantamos a mão. Todo mundo ficou olhando para mim.”
Os amigos que não são mórmons respeitam a decisão de Guilherme e até o ajudam.
Ele nunca viu pornografia. Quando assiste filmes com amigos e a cena é mais picante fecha os olhos para não ver e os amigos o avisam quando a cena termina.
Atualmente sozinho, quando namorava, nunca ficava sozinho em um ambiente fechado com a namorada. “Tenho meus princípios, mas sei que precisa só de dois segundos para tudo acontecer. Até quando íamos ao cinema, levava amigos junto.”

Felicidade
/A estudante Thaís Pereira, 18, acredita que a virgindade é uma fórmula capaz de manter uma união feliz.
“Tenho vários exemplos dentro da igreja e da minha família. Os que optaram por isso são casados há muitos anos e é nítida a felicidade deles.”
Thaís não se sente cobrada pelos amigos que não são mais virgens. Pelo contrário, se sente especial, diferente. Diz que quando alguém fica sabendo que ela é virgem reage como se estivesse ao lado de uma extraterrestre, mas isso não a incomoda.
“Acho bonito me guardar para uma data que será muito especial”.
E esta data está chegando. O casamento está marcado para o final do ano. Ela e o namorado são mórmons. Nenhum desses jovens têm medo de não rolar a química entre o casal depois da união. “A nossa relação vai ser do nosso jeito e não de uma forma mundana”, diz Thaís.
“A união não se baseia no físico. É o amor mesmo. E o casamento tem tudo para dar certo”, completa Guilherme.

Mais
Celebridades já defenderam essa postura. É o caso do jogador de futebol Kaká, que declarou que se casou virgem; os Jonas Brothers, que usam anéis de castidade e até o ídolo teen, o cantor Justin Bieber, 16

Pílula provoca revolução
O lançamento da pílula anticoncepcional, em 18 de agosto de 1960, nos Estados Unidos, ainda é maior divisor de comportamento social das mulheres.
Representou uma verdadeira revolução de hábitos sexuais no mundo ocidental.
O sexo, na época, ainda era tratado apenas como meio de reprodução. Por isso, a pílula promoveu uma reviravolta no conceito de sexualidade. O casal podia manter relações sexuais apenas por prazer.
O auge da pílula anticoncepcional veio a seguir, com Woodstock e os hippies, a efervecência do movimento estudantil e o avanço do feminismo.
O método contraceptivo foi amplamente disseminado na década de 1970. Permitiu às mulheres um controle sobre a sua fertilidade e a possibilidade de ter, de forma segura, um número maior de parceiros sexuais.
As pílulas também tornaram possível controlar a taxa de natalidade da população, programar melhor as gestações e, mesmo, interromper, de forma relativamente simples, o ciclo reprodutivo feminino.
O uso disseminado também é responsável por garantir acesso maior aos estudos.
Cientistas sociais afirmam que a disseminação do método também responde por elevar o nível de escolaridade feminina, contribuindo, assim, para o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho.
Tal revolução só pode ser comparada com o que significou a 2ª Guerra Mundial para as mulheres. A ida dos homens para os campos de batalha forçou as mulheres a ocuparem postos de trabalho e elas conheceram, então, a liberdade financeira.

Tendência é forte em todo o Ocidente

Existe no mundo ocidental tendência de parcela da juventude de preservar a virgindade até o casamento. “É uma busca de soluções passadas para problemas atuais”, explica o sociólogo de Rio Preto Luciano Alvarenga.
Ele diz que os jovens imaginam que tomando essa atitude terão um relacionamento diferente das gerações passadas e que vai redundar em um amor durável.
O que a geração atual vê é que seus pais, muitas vezes, perderam a virgindade antes do casamento e que a união foi pouco duradoura ou feliz.
E essa crença é reforçada nos espaços religiosos que pregam o sexo antes do casamento como pecado.
“Parte das religiões impõe um tipo de comportamento que é seguido pelos fiéis.”
“Há um ressurgimento religioso. Na Europa, é o budismo. No Brasil, que sempre teve existiu, está se redinamizando.”

Quebra de tabus /Mas o sociólogo observa uma outra vertente da sociedade, que cresce e se desenvolve tecnologicamente. Se por um lado os jovens investem na virgindade como garantia de uniões felizes outra parcela está banalizando e a tendência é de quebra de tabus.
“Um comportamento que está acontecendo de forma muito silenciosa e chegou à classe média é o incesto. As famílias estão desfragmentadas e os filhos crescem com as mães ou as filhas com os pais.”
Alvarenga lembra o caso da ex-mulher do jogador Edmundo. Cristina Mortágua participou de um ensaio sensual com o filho que teve com o jogador, Alexandre, em março de 2010. Durante a sessão de fotos, ela e o filho se beijaram na boca, enquanto o garoto a abraçava cobrindo os seios da mãe.
“Isso é apenas a ponta de um iceberg. Os relacionamentos misturam afeto, amor, solidão familiar. É um caldo muito complexo.”

Rede Bom Dia / www.padom.com.br

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