Escolha de padroeiro divide os religiosos em Joinville

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Projeto para tornar o Sagrado Coração de Jesus padroeiro de Joinville recebe crítica dos não-católicos

O prefeito Carlito Merss (PT) precisou apartar uma disputa entre católicos e evangélicos na véspera do Feriado de Finados.

Tudo por causa de uma lei aprovada na Câmara de Vereadores que iria instituir a primeira sexta-feira do mês de junho para celebrar o Sagrado Coração de Jesus como padroeiro de Joinville.

Aprovada no dia 15 de outubro, a lei precisaria ser assinada pelo prefeito para ter validade. Mas, antes disso, representantes da igreja evangélica foram à Prefeitura pedir veto à lei, justificando que a data seria representada por um símbolo da Igreja Católica.

A proposta foi elaborada pelo bispo de Joinville, dom Irineu Scherer, e enviada à Câmara. O vereador Osmari Fritz (PMDB), ex-padre, criou o projeto de lei e o apresentou no plenário, onde foi aprovado em primeira instância com apenas um voto contra.

— O projeto trâmitou tranquilamente. Não esperávamos essa reação. A ideia de dom Irineu contribuía para incentivar o turismo religioso e reforçar que esta é uma cidade cristã —, afirma Osmari.

Agora, o projeto será rediscutido em um conselho com todas as entidades religiosas até se chegar a uma definição e a uma data de celebração religiosa em Joinville que agrade a todos os credos.

— A questão é teológica, mas vem para a esfera prática e política. É a mesma motivação do outro projeto, mas teologicamente diferente —, afirma Osmari.

— O projeto não atendia a todas as expectativas dos cristãos. Se vai representar toda a cidade, precisa ser algo que tenha pluralidade de religiões —, comenta o pastor Gilson Siqueira, presidente do Conselho de Pastores de Joinville, que fez o pedido do veto.

Do outro lado, os representantes da Igreja Católica não viram problema em ampliar a discussão.

— Não tínhamos intenção de criar discórdia. Sugerimos a criação do dia e nem pensamos nos outros lados. Agora, vamos corrigir isso na base da conversa e respeito mútuo —, comenta dom Irineu.

Enquanto isso, o vereador Osmari Fritz aguarda a solução do problema. O que for decidido pelas entidades servirá como texto para ele encaminhar à votação na Câmara.

— Para não criar uma guerra santa, vamos criar um dia de reverência para todos os religiosos —, analisa.

“ERA A VONTADE DE MUITOS FIÉIS”

O bispo dom Irineu Scherer idealizou o projeto de instituição do Sagrado Coração de Jesus como padroeiro da cidade. Ele questiona por que não há nenhuma reclamação da Igreja Evangélica nas outras cidades brasileiras onde há padroeiros e festas.

— Santa Catarina tem uma padroeira, que é Santa Catarina de Alexandria. Ela também é a padroeira de Florianópolis, mas ninguém se revolta contra isso. Não entendo por que só em Joinville não pode haver um padroeiro —, desabafa.

AN – Por que Joinville ainda não tinha um padroeiro?Dom Irineu – Eu vim para Joinville e estranhei que uma cidade desse tamanho e com essa quantidade de católicos não tivesse um padroeiro. Perguntei por que, mas ninguém soube me responder. Era da vontade de muitos fiéis que fosse instituído um padroeiro e um dia de celebrações, como em outras cidades deste porte. Por isso, como bispo, tomei a iniciativa de fazer um projeto e encaminhar ao Legislativo. O vereador Osmari Fritz assumiu o projeto para levá-lo ao plenário.

AN – Por que criar um dia para celebrar o padroeiro?Dom Irineu – Em outras cidades, o dia do padroeiro é um dia de união, quando todos se reúnem para celebrar a religião. Em Garanhuns (PE), de onde vim (foi bispo de lá entre 1998 e 2007), o padroeiro é o Santo Antônio e é feriado no dia dele. Então vinha o prefeito, a cidade inteira, reunir-se para celebrar o dia do padroeiro. Dá a impressão de que Joinville é uma cidade pagã por não ter padroeiro.

AN – Qual era a ideia do projeto?Dom Irineu – Não seria uma data fixa, mas a primeira sexta-feira de junho. Ainda não sei se faria feriado, mas acredito que sim, que o prefeito instituiria feriado. Também construiríamos uma pequena capela com a imagem do Sagrado Coração de Jesus na entrada da cidade, em um terreno perto da Expoville. Assim, quem passasse pela BR-101 enxergaria a imagem do padroeiro da cidade.

AN – Mas a criação da data precisa ser feita por lei?Dom Irineu – A Igreja pode criar e celebrar o padroeiro, mas não seria em âmbito municipal. Para criar um padroeiro para a cidade e instituir a data, precisa passar pela aprovação dos munícipes. Foi aprovado por todos na Câmara, menos pela vereadora Zilnete Nunes, que é evangélica. Confiávamos que o prefeito Carlito aprovaria o projeto.

AN – Por que a escolha do Sagrado Coração de Jesus como padroeiro de Joinville?Dom Irineu – Quem começou a evangelização em Joinville foram os padres da congregação Sagrado Coração de Jesus. Seria uma homenagem a eles. O movimento de oração do apostulado na Paróquia também é muito forte entre os fiéis. Além disso, quando comecei o projeto, imaginava um padroeiro como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, protegendo a cidade. Faria parte do turismo religioso. Não queremos uma guerra santa, nós queríamos apenas contribuir com o município.

AN – E agora, o senhor ainda vai participar da criação de uma outra data com os pastores?Dom Irineu – Marcaram a reunião do conselho para dia 11 de novembro, dia que estarei fora da cidade, mas teremos padres católicos participando da discussão. Eu lamento muito que não teremos um padroeiro, então vou deixar que eles decidam o que vão fazer agora.

CLICRBS/Portal Padom

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