Ernesto Araújo espera que Biden entenda o Brasil como Trump entendeu

O chanceler do Brasil Ernesto Araújo, diz em entrevista ao Bloomberg, que os conservadores estão sendo silenciados e espera que Biden entenda o Brasil como Trump.

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O governo do presidente Jair Bolsonaro, que abraçou tanto o governo Trump quanto seus ideais centrais, quer que o presidente eleito Joe Biden saiba que não está prestes a reverter o curso em resposta à mudança na liderança dos EUA.

Em vez disso, espera que Biden perceba que Brasil e Estados Unidos têm muitos interesses comuns, inclusive a promoção da democracia e da segurança na América Latina, e não estão em lados opostos em relação ao meio ambiente, segundo o chanceler Ernesto Araújo.

“Esperamos que o novo governo dos EUA veja nosso governo pelo que ele realmente é, pelo que o povo brasileiro é e defende”, disse Araújo em entrevista concedida em seu escritório em Brasília na quinta-feira. “Ambos os lados devem fazer um esforço para o entendimento mútuo.”

Esse tipo de compreensão mútua veio facilmente com Donald Trump, não apenas por causa de sua amizade com Bolsonaro, mas porque Trump entendeu que os brasileiros fizeram uma escolha ao eleger o ex-oficial do Exército como seu presidente, disse Araújo. Em troca do alinhamento do Brasil com as posições dos EUA, Trump suspendeu a proibição das importações de carne in natura do país latino-americano, apoiou sua candidatura para ingressar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e assinou acordos de cooperação em defesa e exploração espacial.

O Brasil, como a maior economia da América Latina, faz mais comércio com os EUA do que qualquer outro país, exceto a China. No entanto, Bolsonaro está publicamente em desacordo com Biden desde que ele ameaçou o Brasil em um debate de campanha com “consequências econômicas significativas” se não agisse para preservar a Amazônia. Pessoas familiarizadas com os planos de Biden disseram em dezembro que ele lideraria uma frente unida do Ocidente para pressionar Bolsonaro a adotar políticas ambientais mais rígidas, após dois anos de indignação internacional com a propagação de incêndios que destroem a floresta tropical.

Araújo, no entanto, disse que as preocupações ambientais são exageradas pela mídia local e internacional. O Brasil continua no Acordo de Paris, disse ele, e fez uma oferta importante para antecipar sua meta de neutralidade de carbono em troca de US $ 10 bilhões por ano dos países desenvolvidos. Ele disse que, com os Estados Unidos prontos para voltar ao acordo global, haverá mais dinheiro na mesa para esses pagamentos.

Conservadores silenciados

Bolsonaro, que se autodenominava uma versão brasileira de Trump, apoiou publicamente sua candidatura e foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizar Biden por sua vitória. Na semana passada, enquanto os rebeldes invadiam o Capitólio dos Estados Unidos, o presidente brasileiro repetiu as alegações de que houve “muita fraude” na votação dos Estados Unidos, bem como durante sua própria eleição de 2018 – que ele afirma que deveria ter vencido no primeiro turno de votação.

Araújo não quis comentar as alegações de fraude, mas disse que as preocupações com os sistemas de votação nos Estados Unidos, Brasil e outros países são legítimas e devem ser resolvidas. Ele condenou a violência em Washington na semana passada, mas advertiu que não pode ser usada como desculpa para calar as vozes conservadoras em todo o mundo.

“Por mais que nada justifique a invasão, nada justifica a restrição da liberdade de expressão”, disse ele, criticando a decisão do Twitter Inc de banir Trump da plataforma e acusando a empresa de remover milhares de seus próprios seguidores sem motivo claro. “Virou uma caça às bruxas”, disse Araújo.

O ministro não descartou a possibilidade de que o tipo de protesto visto em Washington aconteça em outro lugar, inclusive na eleição presidencial de 2022 no Brasil.

“Quando as pessoas se sentem sufocadas em sua capacidade de falar e ouvir, isso pode causar sérios problemas em qualquer país”, disse ele.

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