Enterro de prostituta perto de Calvino suscita críticas

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prostituta01gGenebra, Suíça, 09 Mar (Lusa) – Uma conhecida prostituta defensora dos direitos e dignidade das trabalhadoras do sexo teve hoje direito a ser enterrada no mesmo cemitério onde repousa o teólogo protestante João Calvino e algumas activistas criticaram a decisão.

Griselidis Real, que morreu em 2005, foi enterrada na presença de 200 pessoas no Cemitério dos Reis, que é reservado aos indivíduos que marcaram profundamente a Suíça ou a história internacional. O escritor argentino Jose Luis Borges e o pioneiro da psicologia infantil Jean Piaget estão entre as personalidades ali enterradas.

O corpo de Griselidis Real, que tinha 76 anos quando morreu, apenas dez anos depois de ter abandonado a prostituição, foi exumado de um outro cemitério em Genebra para a cerimónia que alguns – particularmente mulheres – consideraram ofensiva.

“Se todas as mulheres que têm crianças para criar sozinhas se virassem para a prostituição, a cidade de Genebra seria um bordel”, disse Amelia Christinat, uma feminista e antigo membro do parlamento suíço que se opôs à trasladação.

Jacqueline Berenstein-Wavre, a primeira mulher a chefiar o parlamento de Genebra, também colocou objecções.

“Nenhuma mulher devia congratular-se com esta transferência que mais não é do que a exaltação de uma prostituta e da prostituição em geral pelos seus protectores masculinos”, disse ela ao diário Tribune de Geneve, que salientou haver poucas mulheres enterradas naquele cemitério, menos de um quarto das 350 sepulturas.

A prostituição é legal na Suíça, com “bairros vermelhos” nalgumas cidades. Mas Griselidis Real trabalhou durante anos para melhor as condições das trabalhadoras do sexo.

Ela ajudou a fundar a Aspasie, uma associação que se descreve como promotora da solidariedade com as prostitutas.

A Aspasie disse que ela reuniu uma colecção de artigos de jornais, filmes e outra documentação sobre prostituição durante 30 anos e que os seus quatro filhos doaram esse espólio à associação quando ela morreu.

A Igreja Protestante de Genebra tem-se mostrado reservada nos seus comentários à trasladação, apesar de esta antiga combatente pelos direitos das prostitutas descansar agora perto de uma das figuras centrais da história da cristandade.

A cidade, outrora conhecida como a “Roma protestante” está a celebrar este ano o 500º aniversário do teólogo francês da Reforma protestante com vários eventos.

“O cemitério não é um local sagrado”, disse Roland Benz, moderador da associação de pastores de Genebra, citado pelo Ecumenical News International.

Griselidis Real nasceu em 1929, em Lausanne. Divorciada e mãe de quatro filhos, começou a trabalhar como prostituta na Alemanha, nos anos sessenta, e mudou-se depois para Genebra, liderando a campanha pelos direitos das prostitutas.

Ruth Morgan Thomas, uma destacada activista dos direitos das prostitutas, disse que o enterro foi um importante reconhecimento para as trabalhadoras do sexo “que exigem simplesmente ser tratadas sem discriminação e apreciadas como parte integrante da sociedade”

TM.

Lusa/Fim

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