Começar de novo!

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O perdão restaura corações e liberta mentes!

Corrie Ten Boom foi uma mulher holandesa cristã, que na época da Segunda Guerra Mundial escondia judeus em sua casa e, depois, facilitava-lhes a fuga para que não fossem mortos. Ela, sua irmã e seu pai foram descobertos e presos em um campo de concentração. Ali passou por todas as humilhações e sofrimentos imagináveis. Sua irmã e seu pai não resistiram aos maus tratos e morreram. Ao final da Guerra, após a rendição da Alemanha ela foi libertada. Levou, porém, muito mais tempo para libertar seu coração do ódio consumidor que nutria contra os responsáveis pelo tratamento desumano e abusivo que recebera.https://padom.com.br/wp-content/uploads/2010/04/recomecar.gifAo perdoar, percebeu que havia descoberto o único poder restaurador para o sofrimento e ódio do povo europeu. Começou, então, a pregar sobre o perdão na Holanda, França e Alemanha.

Certo domingo, em Munique, Alemanha, falou numa igreja sobre o perdão. Após o culto, desenrolou-se o que podemos chamar de um verdadeiro drama. Um homem aproximou-se dela com a mão estendida e, na expectativa de ser cumprimentado, perguntou:

– Então, Ten Boom, posso acreditar que você já me perdoou? Estou aliviado porque Jesus perdoa todos nossos pecados, como você acabou de falar!

Naquele instante, Corrie o reconheceu. Ele era o soldado que a forçara a tomar banho junto com as outras prisioneiras enquanto ele as observava e lhes dirigia palavras obscenas. Foi como se, ali mesmo, um vídeotape rodasse em sua mente trazendo o terrível passado de volta. A mão de seu algoz continuava estendida. Ela, porém, congelara e não conseguia fazer um movimento sequer. Onde estava o perdão do qual acabara de falar?

Corrie ficou indignada com sua própria reação. O que fazer? Estava certa de ter superado seus sentimentos contra aqueles homens cruéis, mas deparava-se, naquele momento, com uma situação na qual realmente não conseguia perdoar.

O que fazer? Simplesmente orou: “Jesus, eu não consigo perdoar este homem. Por favor, me perdoe!”. De repente, de forma inexplicável, ela se sentiu perdoada. Como? Ela perdoada? De quê? Perdoada por não haver perdoado!

E foi então que, ao receber o perdão de Deus, ela estendeu a mão em direção ao seu ex-inimigo e sentiu um profundo amor invadindo-lhe o ser. Com aquele aperto de mão ela libertara não só aquele homem, mas também a si mesma.

Reconheço que nem sempre Deus age de forma tão rápida em relação ao perdão. Normalmente é um processo que pode levar dias, meses, até anos. E, também não será necessariamente padrão que o relacionamento com a pessoa que nos infringiu o sofrimento volte a ser nos mesmos termos. Cada caso é um caso. Pode-se, por exemplo, perdoar um abuso, mas não se deve favorecer as circunstâncias de forma a possibilitar uma reincidência. A Bíblia diz que devemos ser simples como os pombos, mas astutos com as serpentes (Mateus 10.16).

Há algo, porém, que deve ser dito, porque muitos chegam a acariciar suas mágoas e a agarrar-se a elas como incentivo de vida. A ausência do perdão acarreta sérias e visíveis conseqüências. Uma senhora cuja mãe falecera por imperícia médica procurou-me para dizer que dia e noite ela era alimentada pelo ódio que armazenava contra o profissional que causara aquela perda em sua vida. Confessou, também, que estivera a ponto de comprar uma arma para matá-lo. Seu rosto, personalidade e espírito estavam deformados pelo ódio que, literalmente, a consumia. Ela estava lívida e era a verdadeira expressão da dor, desespero e tristeza.

Tenho conversado com esposas e maridos cujos parceiros foram infiéis. Como é difícil perdoar! Chego a pensar que a ordem deixada por Paulo em Colosensses 3.13 seja uma das mais difíceis de obedecer: “Sejam amáveis, prontos para perdoar; jamais guardem rancor. Lembre-se que o Senhor os perdoou, portanto vocês devem perdoar os outros” (Bíblia Viva).

Ao confessarmos a Deus que compreendemos que devemos perdoar, mas que não estamos conseguindo, Ele nos dá o poder para tal. O impossível aos nossos olhos é possível para a Fonte do perdão. Porém, é bom frisar, nem sempre será tão rápido quanto foi para Corrie Ten Boom.

Há etapas para o perdão (a não ser que Deus as pule). A primeira é o sofrimento agudo proveniente da dor, o que costuma conduzir à segunda que é o ódio. Nesse ponto nos parece impossível esquecer a ofensa recebida e, muito menos, desejar o bem do ofensor. A terceira fase é a cura. Deus atuando no processo vai possibilitando que a dor aos poucos diminua. A quarta etapa é a reconciliação com o ofensor. E aí, lembramos de outro versículo relacional: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 8.18). A paz pode ser refeita pelo menos em seu coração.

Você está com dificuldades em perdoar? Deixe-me dizer uma coisa: você não é o único. Perdoar não é fácil. Mas, o perdão partiu de Deus, pois ele em Cristo veio ao mundo para perdoar as nossas ofensas. “Em Cristo não havia pecado. Mas Deus colocou sobre Cristo a culpa dos nossos pecados para que nós, em união com ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus” (2 Coríntios 5.21). Jesus tomou nosso lugar na cruz do Calvário para que pudéssemos ser perdoados e livres. O objetivo de Deus também é nos libertar das torturas causadas por nossas mentes e emoções: “Sejam bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-se mutuamente, tal como Deus os perdoou por vocês pertencerem a Cristo” (Efésios 4.32).

Gostaria de, agora, ser um facilitador para você que está encontrando dificuldades em perdoar alguém. Deus sabe o que lhe fizeram e a intensidade de sua dor. Vou deixar aqui registrado o exemplo de uma oração. Não são palavras mágicas. É só uma ilustração para você seguir, caso esteja com problemas em conseguir perdoar:

Meu Deus, muito obrigado por seu amor por mim. Sei que o Senhor me perdoou, mas confesso que não estou conseguindo perdoar ________________ (cite o nome da pessoa aqui. Não precisa escrever. O objetivo é que você personalize sua oração).

Estou, no entanto, colocando-me à sua disposição para que o Senhor opere um milagre em meu coração. O Senhor conhece a intensidade da minha dor. Quero entregá-la neste momento e pedir que perdoe essa pessoa através de mim.

Em o nome de Jesus,

Amém.

O perdão liberta, principalmente, a pessoa que o concede. Digo isso, porque nem sempre o ofensor valorizará o perdão recebido. Porém, o mais importante é saber que o perdoador, além de obedecer a ordem divina, vive melhor com Deus, consigo e com os seus semelhantes.

Para fechar este artigo (mas não o assunto) gostaria de acrescentar que nem sempre essa disposição em perdoar e sua verbalização através da oração suscitará sensações ou sentimentos. Pode ser que os tenha, então louve mais ainda ao Senhor. O que realmente importa é o fato de você apresentar sua disposição a Deus, e fazer o que for preciso para implementá-la.
Jaime Kemp

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