Claudinha Leitte na revista Claudia fala sobre religião

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Bonita, carismática, dançarina de primeira. Claudia Leitte é tudo o que se espera. Seu nome tem grande potencial para balançar a bolsa de apostas das sucessoras do reinado baiano do axé, cuja coroa se divide há tempos entre Ivete Sangalo e Daniela Mercury.

Enquanto as musas baianas sempre defenderam uma maior abrangência musical, mesmo sem renegar o ritmo que as consagrou, Claudia até se arrisca em outros gêneros, mas gosta mesmo de ser cantora de axé.

Os diferenciais vão além. Imagine uma cantora de axé leitora de Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Que arrisca uma ponta na série Malhação, da Globo. Uma representante da ala emergente das cantoras da Bahia que nunca pisou num terreiro de candomblé – sendo que o axé está ligado à energia dos orixás, do ritmo à própria origem da palavra. Na capital baiana, onde templos evangélicos avançam cada vez mais sobre os terreiros, Claudia diz não seguir nenhuma religião, mas espalha mensagens cristãs em cima do trio elétrico.

Com cinco dias de vida, já estava em Salvador e ali para sempre ficou. Mas Claudia nasceu em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, depois que a bolsa da mãe rompeu na escala de um voo na capital fluminense.

A mesma artista que, desde os tempos do Babado Novo, conquistou seu público incorporando um furacão no palco revela desconhecer diversão tão garantida quanto ficar em casa, quietinha, aconchegada a seus dois amores: o marido e empresário Márcio Pedreira, um ex-colega de escola, e o filho de 8 meses, Davi. Nesta entrevista à revista CLAUDIA (veja trechos a seguir), que começou no apartamento que ela mantém em São Paulo, no Jardim Paulista, e continuou num microônibus, no percurso de uma hora e meia até a cidade de São José dos Campos (SP), Claudinha, como a chamam os fãs, falou muito sobre espiritualidade, seu tema preferido no momento. Quando a reportagem de CLAUDIA chegou, a cantora estava com olhos fixos na tela de um laptop na mesa da sala.
ENTREVISTA

Podemos começar?
Espera. Quero fazer a primeira pergunta. Você se importa se a entrevista for acompanhada pelos meus seguidores no Twitter?

Quantas pessoas estão aí com você?
Quinze mil, por aí. O Twitter é uma ferramenta mais recente, estamos crescendo. Mas a minha comunidade no Orkut, entre os artistas, é a maior do Brasil. São quase 600 mil usuários cadastrados. Também estou no Facebook e no MySpace.

O perigo é que aí deixa de ser uma entrevista exclusiva e passa a ser uma coletiva.
Não (levando a sério)! Só você fará as perguntas, eles ficarão apenas acompanhando e fazendo comentários que vão aparecer aqui na tela. (Ela vira o computador e mostra dezenas de manifestações de fãs correndo pela tela. Muitas com o mesmo texto: “Eu te amo!”)

Talvez você possa deixar o computador ligado apenas no começo da entrevista e depois desligá-lo (descem na tela diversas aprovações por parte dos seguidores). O Twitter hoje faz parte do seu show?
Estou totalmente viciada. A internet sempre foi um dos grandes apoios do meu trabalho. Mas por culpa do Twitter tenho passado mais horas moitando na frente do computador. É impossível interagir com todos os meus seguidores, mas respondo a uma ou outra pergunta e continuo escrevendo textos mais longos no meu blog. Muitos internautas são bem jovens e às vezes escrevem bem errado (risos). Eu não perdoo e corrijo (continua rindo). Meu incomoda ler “chato” e “bicho” escritos com x (vários seguidores fazem agora a mesma provocação: “xata”). Desaprovo até o abuso das abreviações. Fazer isso o tempo todo banaliza e empobrece a língua.

Os seus textos no blog costumam ser bem escritos e pontuados, sem muitas concessões ao “internetiquês”. Você tem realmente apreço pela gramática?
Muito. E também pela literatura. Adoro Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Do Pessoa, gosto de Alberto Caieiro, o “homem do campo” (a repórter o confunde com Álvaro de Campos, o heterônimo do engenheiro, e Claudia Leitte prontamente faz a retificação). Outro dia, um crítico de uma conhecida revista perguntou se eu estava dando essa declaração só para fazer bonito. Perguntei se ele estava me achando burra. Ainda existe muito preconceito com quem canta axé. Mas parei de me preocupar com a crítica e nem sempre leio o que escrevem sobre mim. Meus fãs são o meu melhor termômetro.

Você disse que a sua música também representa um canal de ajuda espiritual. Como funciona isso?
O que acontece por meio da minha música ajuda, sim, algumas pessoas. Sempre procuro passar boas mensagens. Só me envolvo em campanhas nas quais acredito, a favor da amamentação e contra as drogas, por exemplo. O título do CD que lanço depois do Carnaval, Sette, foi inspirado num versículo bíblico, em Mateus 7, que diz que antes de julgar os outros devemos olhar para as próprias atitudes. Tenho cada vez mais interesse por temas ligados à espiritualidade. Comecei a estudar direito, depois comunicação, mas não concluí nenhum dos cursos. Penso agora em fazer faculdade de teologia pela internet.

A religião é parte muito importante da sua vida, então?
Religião, não. Mas Deus é. Nunca pensei que a gente fosse fruto de poeira cósmica. Já recebi alguns sinais divinos na vida. A última intervenção de Deus, que acho que tive, foi há poucos meses. Eu estava gravando o programa do Luciano Huck, no Rio, quando me senti avisada de que deveria levar rapidamente meu filho, Davi, ao hospital. Parei tudo e dei ouvidos a essa intervenção de Deus. Davi foi diagnosticado com meningite. Nunca sofri tanto na vida. Felizmente ele se recuperou.

O que está achando da experiência de ser mãe?
É maravilhosa. Parece que a vida faz mais sentido. Eu quero ter mais filhos porque nasci mesmo para ser mãe…

Carnasite / Padom

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