Carta ao Osnildo – Um cristão que pensa em colocar seus pais no asilo

1265
*A presente carta é de gênero fictício, embora contenha situações da vida real.
Querido Osnildo, graça e paz. Obrigado por me escrever na semana passada e pelos convites enviados para o churrasco – tão breve seja possível desejo estar junto com tua família! Também lhe agradeço pela forma carinhosa com que você tem tratado os irmãos da igreja, de modo que muitos têm dado bom testemunho de sua conduta.

carta-idoso-asiloNesta breve carta pretendo lhe falar sobre aquele assunto que você comentou comigo, a saber, a possibilidade de colocar seus pais em um asilo. Lembro que tinhas comentado acerca de sua idade “um pouco mais avançada” (65, certo?), de ser filho único, de seus filhos já estarem criados e você não ter condições adequadas para sustentar seus pais, os quais atualmente recebem uma pequena aposentadoria do governo. Realmente é uma situação difícil. Sei de seu esforço durante estes anos com seus pais e que atualmente não vê outra solução, senão os colocar em um asilo. Me permita, porém, amado irmão, tecer algumas considerações.
Antes de mais nada, deixo registrado que não estou atacando as instituições que acolhem as pessoas de idade. Tenho grande apreço por todas que fazem um excelente trabalho, muitas delas de maneira filantrópica e que demonstram extremo carinho por aqueles que por algum motivo tiveram de ir até lá. Louvado seja o Senhor por prover um local para todos aqueles senhores e senhoras.
Mas a primeira coisa a se notar é que a Bíblia Sagrada nos coloca uma grande responsabilidade para com nossos filhos, cada qual devendo os ensinar no bom caminho do Evangelho (Dt 6.7) – isto você fez com maestria para com os teus, de maneira que pela graça do Senhor todos seguem firmes na Palavra. Por outro lado, o que foi tratado como filho, um dia será pai e precisará de cuidados, o que juntamente ocorre com seus pais. Neste sentido, a Escritura é bastante evidente: “Mas, se alguma viúva tiver filhos, ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família, e a recompensar seus pais; porque isto é bom e agradável diante de Deus” (1Tm 5.4).
Observe que o apóstolo Paulo instrui a Timóteo para que no tocante ao cuidado com os membros da igreja, ensine a família a prestar caridade para com os seus. Naquela situação em específico, muitas viúvas estavam vivendo às custas da igreja, sendo que tinham familiares crentes, os quais não estava fazendo o devido esforço para as amparar. Note, igualmente, algo importante: “aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família“. Muitas vezes somos rápidos (ou nem tanto) para ajudar o desconhecido, aquele que nunca vimos, mas quão lentos somos para exercer o amor para com nossos parentes próximos – tudo isso sob inúmeros argumentos, alguns válidos, outros não.
Existe, outrossim, um ponto salutar: “se alguma viúva tiver filhos, ou netos“. Seus pais têm somente a você como filho, mas eles também possuem netos – não me falha a memória você possui dois filhos, certo? Isso se traduz em que, segundo a Escritura, não somente você pode e deve os amparar, e sim também seus filhos, a fim de que os primeiros pais possam ter os provimentos necessários. É bem verdade que não mais vivemos naquela sociedade com muitos filhos (o que possui consequências sérias para a humanidade, pois mais filhos podem ajudar melhor os pais, por exemplo), todavia, o dever bíblico permanece independente disso.
Neste momento, recordemos do dito de Tiago: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1.27 – grifado). Imagino que o irmão possa pensar que iria visitar seus pais no asilo, mas a pergunta é: isto seria o mesmo que cuidar de seus pais, ou seja, “exercer piedade para com a sua própria família“? Imagino, também, que o amado raciocine que é melhor deixar os pais em um asilo, do que não ter condições de os cuidar – o problema, entretanto, é que se o irmão não possui condições de lhes sustentar, terá de procurar um asilo público (que será difícil encontrar e achar uma vaga) e deixará seus pais aos cuidados de pessoas que não lhes levarão da Palavra de Deus diariamente, bem como “sabe-se lá nosso Deus” como deles cuidarão.
Dois versículos muito preciosos podem lhe ajudar a refletir: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mt 7.1-2). Ao contrário do que muitos pregadores dizem, este texto se encontra em conjunto com a repreensão ao julgamento desmedido para com o próximo – o típico farisaísmo combatido por Jesus. Aqui, somos instados a julgarmos de maneira equilibrada, “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados“. Isto significa dizer que se o irmão pensar ferranhamente desta forma (colocar seus pais no asilo) e não se propuser a achar uma forma melhor, sendo intransigente, não poderá reclamar se fizerem o mesmo com você e com sua esposa.
Um pouco adiante no capítulo de Mateus, lemos: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7.12). Neste instante, deixo a pergunta ao irmão: você gostaria de que seus filhos o colocasem em um asilo? Todas aquelas fraldas trocadas, o dinheiro árduo investido na educação dos mesmos, a abnegação, as tristezas, as felicidades, tudo o que passou com eles para depois ser “idoso” e ser colocado em uma casa de abandono? Permita, por favor, ser “severo aqui”, pois um asilo, por mais que seja um casa com outros semelhantes, nunca será como a companhia dos filhos e netos.
Finalizando, querido irmão, sei que sua casa tem espaço limitado e que também sua renda mensal é pequena, mas quando você tinha filhos em casa, o mesmo não acontecia? Noutras palavras, quando seus filhos estavam crescendo, você também não vivia “apertado”? Ademais, seus pais não lutaram muito para lhe dar uma vida nas melhores condições que puderam? Então, por que agir com certo egoísmo neste momento? Cuide, precioso irmão, para não cair nas ciladas do pecado, o qual nos diz que o tempo de velhice é para “descansar e curtir a vida sem preocupação” – lembre-se que a melhor maneira de viver a vida é cumprindo a vontade de Deus e vivendo para Sua glória (1Co 10.31).
Assim, aqui me despeço, não ordenando ao irmão que não coloque seus pais no asilo (pois teríamos de conversar melhor), mas o levando a pensar sobre as consequências que isso pode ter, bem como se gostaria de ser tratado desta mesma maneira. Tenha em mente que Cristo deu Sua vida por Seu povo, não poupando esforços para os proteger e os guardar de todo o mal – e creio que todos nós devemos fazer o mesmo, afinal, “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1Jo 2.6).
Que o Senhor seja contigo e no que precisar, lembre-se que a igreja é o corpo de Cristo (Ef 1.22-23), de maneira que é mil vezes preferível “passar necessidade” e ser acudido pelos irmãos para ajudar os pais, cumprindo o bom dever de cuidar dos mesmos na velhice, a se livrar de “um problema” e ser tratado da mesma forma posteriormente. Recorde do santo dever que não acaba quando se completa 18 anos: “Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa” (Ef 6.2).
Um grande abraço e Cristo seja com tua casa!

Deixe sua opinião