Canal Um da TV de Uzbequistão exibe documentário difamando Cristãos

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portasabertasEm 17 de maio de 2008, o Canal Um da TV uzbeque transmitiu um documentário de 90 minutas chamado “Nas garras da ignorância”. O programa trata de diversas minorias religiosas no país, mas o foco está nas atividades de cristãos uzbeques e de missionários estrangeiros.
O programa foi recomendado para funcionários públicos e estudantes de todo o país. A liderança acadêmica do Conservatório Federal do Uzbequistão insistiu para que professores e alunes assistissem ao documentário.
Os policiais, de igual modo, foram aconselhados a assistir. Na verdade, a polícia colaborou com a produção do documentário, disponibilizando cenas de operações policiais em cultos.
Líderes de 26 congregações protestantes em todo o Uzbequistão decidiram enviar uma carta aberta ao presidente, pedindo seu auxílio para interromper a difamação e o ataque cruel.
A carta também foi enviada a agências estatais, grupos de comunicação e de direitos humanos.
Entretanto, a exibição do documentário continua, e piorou: a cada dia, ele é exibido em um canal diferente. Chegou a ser transmitido pelo canal de esportes do país, em horário nobre, antes do Campeonato Europeu de Futebol.
Já se produziu e distribuiu o documentário em DVDs, vendidos no Uzbequistão e Rússia.Afirmações preconceituosas e excêntricas
Segundo o “Nas garras da ignorância”, os cristãos são contra o islamismo e têm o plano de converter toda a região ao cristianismo. O documentário afirma também que os cristãos não são cidadãos confiáveis e que aqueles que traem o islamismo, abandonando-o, podem facilmente trair o país também.
Questões econômicas ganham destaque. O programa afirma que líderes cristãos têm seus próprios interesses materiais, e que muçulmanos abandonam a fé só pelo dinheiro. Vários pastores são acusados de atividades criminosas, como roubo.
Os missionários também são mencionados, e diz-se que são tão perigosos quanto terroristas. No filme, enfatiza-se que há uma nova lei que proíbe qualquer forma de atividade missionária. Essas atividades são mencionadas como um “problema global”, tão perigosas quanto fundamentalismo religioso, terrorismo e uso de drogas.
Os cristãos protestantes são ligados a seita satânicas que realizam sacrifícios humanos e a Hare Krishnas. Os batistas, em especial são considerados uma seita cristã herege .
Segundo o programa, crianças e jovens devem receber proteção especial contra a influência dessas “seitas”. Líderes locais afirmam que os jovens estão sendo submetidos a uma “lavagem cerebral”, e estão traindo a fé dos seus antepassados. “Eles aprendem a não ouvir seus pais e a viver de forma diferente. O governo deveria prestar atenção em o que nossos jovens estão se envolvendo e deter esses missionários cristãos!”
Há também algumas informações excêntricas. O documentário afirma que “igrejas protestantes usam substâncias alucinógenas” e que pessoas que aceitam receber aulas, livros e Bíblias se tornaram “zumbis”, como os seguidores dessas “seitas”.
Por fim, cristãos que renunciaram Jesus falam contra o cristianismo no programa. Uma senhora disse que seu pastor a ameaçou caso ela se recusasse a lhe dar dinheiro.

Por que as autoridades fazem isso?
Comentários feitos durante o filme enfatizam a influência política dos cristãos. Alguns disseram que várias revoluções que trouxeram mudanças políticas em países africanos e na Ucrânia teriam sido iniciadas por cristãos protestantes.
“O governo não quer tais revoltas políticas; é por isso que busca reprimir qualquer forma de liberdade”, disse um pastor.
Por temer revoltas e instabilidade, todas as atividades religiosas, tanto islâmicas como cristãs, são estritamente monitoradas e controladas pelas autoridades.
Nazarov, um famoso imame uzbeque, afirma: “É como nos tempos soviéticos. Também tínhamos igrejas e mesquitas em todo lugar. Mas, na verdade, elas operavam sob estrito controle do governo”.
A exibição do programa tem trazido graves consequências aos cristãos uzbeques e suas igrejas.
Um pastor e seu assistente foram ameaçados pelas forças de segurança de Tashkent. “Não acho que eles vão me deixar em paz. Talvez eu tenha que sair do país em um ou dois anos.”
Uma terceira pessoa, apresentada no documentário, mudou-se para outra região do país e foi imediatamente identificada por estranhos. “Foi muito desagradável. Senti como se não tivesse privacidade.”
No dia seguinte à primeira exibição do programa, a congregação batista de Gulistan foi invadida pela polícia e por funcionários do governo, exigindo que o pastor interrompesse o culto. Todos os presentes foram fichados e ameaçados. A igreja foi proibida de se reunir até receber uma autorização do Estado.
“Vemos que nosso governo deseja intimidar as pessoas. Depois desse filme, os cristãos foram mais perseguidos e pressionados tanto pela família como pelos colegas de trabalho. Logo depois do programa, meu sogro, que é muçulmano, me telefonou e convocou para termos uma conversa séria. Quando cheguei, ele tentou me dissuadir do cristianismo. Ele temia que a polícia descobrisse sobre minha religião e me colocasse na cadeia. Ele também temia ser envergonhado se as pessoas descobrirem que a família dele é cristã.”

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