Adepto da Igreja Messiânica não dá vacina de poliomelite em sua filhas

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Fernanda Avancini e o filho Felipe
Fernanda Avancini e o filho Felipe, de 1 ano: calendário completo (Foto: Carlos Sousa Ramos/AAN)

Campinas tenta reverter tendência de queda registrada nos últimos dez anos na campanha nacional

Campinas tenta reverter, a partir deste sábado (20), os baixos índices de vacinação infantil contra a poliomielite. Nos últimos dez anos, a cidade não atingiu a meta considerada ideal, de 95% de imunização das crianças com menos de 5 anos. A doença, apesar de erradicada há 20 anos no Brasil, continua a fazer vítimas no mundo, principalmente na África e Sudeste asiático. Em Campinas, a meta é imunizar 67,5 mil das 71.143 crianças nesta faixa etária. Porém, essa tarefa tem se mostrado difícil.“As pessoas perderam o medo da poliomielite. Todos se sentem seguros porque, há anos, o País não tem registro da doença e não há circulação do vírus. E como há boa adesão às vacinas na rotina, as pessoas acham que a campanha não é necessária. Ela está enfraquecida por falta de motivação”, afirma o infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rogério de Jesus Pedro. Ele alerta, porém, que a estratégia é a responsável por essa segurança. “Há que lembrar que o vírus não circula mais no Brasil, mas ainda é presente em vários países, por isso as campanhas são importantes. Sem elas, a reintrodução do vírus selvagem é uma possibilidade real, o que seria um grande retrocesso”, diz. Jesus Pedro lembra que a distância entre Brasil e África, onde há o vírus, pode ser vencida com um voo de sete horas.

Apesar de abaixo da meta do Ministério da Saúde, a cobertura ainda supera os 80% em Campinas e mobiliza a maioria dos pais nos dias de campanha. “Neste sábado estarei no centro de saúde vacinando o Felipe. É um compromisso”, afirma Fernanda Avancini, de 31 anos, mãe de Felipe, de 1 ano e 8 meses. Ela conta que o menino recebeu todas as vacinas recomendadas, “mesmo as que não são disponíveis na rede pública”. “Acho importante proteger meu filho. Não tem sentido ele contrair uma doença que é possível prevenir”, diz.

O publicitário Henri Lalli, de 46 anos, e pai de seis filhos, mudou de idéia com relação às vacinas. Os três filhos mais velhos tomaram todas. Já a quarta filha foi vacinada parcialmente e as duas mais novas não receberam qualquer dose. Adepto da Igreja Messiânica, ele explica que recebeu no templo as primeiras orientações sobre os riscos da vacinação. “Mas não se trata de questão religiosa. A igreja não traz isso como dogma, apenas orienta, não proíbe a vacinação. Decidi não vacinar meus filhos depois de pesquisar muito o assunto, na internet e em publicações médicas”, explica. ‘A própria medicina orienta a ler as bulas antes de tomar um medicamento. Mas não há bulas nas vacinas, a gente recebe e pronto”, diz Lalli. O publicitário cita que em vários países desenvolvidos a vacinação não é obrigatória e que a própria evolução da civilização, com os cuidados maiores de higiene, colaborou para a redução das doenças.

Segundo Lalli, suas filhas mais novas, Safira e Salma, de 8 e 6 anos, são a prova da eficácia de uma vida natural e sem ingestão de medicamentos. “Elas são supersaudáveis, nunca tomaram uma injeção ou comprimido e, se adoecem, ficam boas em um ou dois dias”, afirma, acrescentando que os filhos mais velhos ficavam mais tempo adoentados.

‘Barreira ambiental”

O pediatra Tadeu Fernando Fernandes reforça que é fundamental a vacinação das crianças menores de 5 anos para garantir uma “barreira ambiental” contra a pólio. “A vacinação em massa produz o efeito rebanho”, afirma. Ele explica que a vacina contém o vírus vivo, mas atenuado, o chamado vírus vacinal. Com a dose, esse vírus se multiplica no intestino e é eliminado pelas fezes, se espalhando pelo ambiente. “O vírus vacinal é disseminado via fezes e faz uma espécie de vacinação indireta, por isso chamamos de efeito rebanho, porque passa indiretamente de uma pessoa para outra”, afirmou Fernandes. “A vacinação de rotina é importante e garante a proteção individual da criança. Mas a campanha é um complemento que dissemina o ‘vírus do bem’ para o ambiente”, reforça. Para o pediatra, independentemente da criança ter tomado todas as vacinas de rotina, deve receber também a dose da campanha.

cosmoonline/padom.com

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